Há seis meses, as rodas de capoeira tradicionalmente realizadas todos os sábados no Centro de Santa Maria deixaram de reunir capoeiristas e de contemplar o público com os movimentos rápidos com piruetas de mãos no chão e pernas no ar. A pandemia de Covid-19 afastou das ruas os praticantes dessa expressão cultural brasileira, mas não silenciou totalmente berimbaus e atabaques. Originária da resistência dos escravos africanos na época do Brasil colonial, a capoeira se adaptou à nova realidade e passou a ser difundida de forma virtual.
“No momento estamos parados, reunindo, às vezes, com algum graduado para não parar. Roda na praça está parada desde março. Estamos vendo como retornar e quando fazer com segurança. Viagens e eventos todos foram cancelados em todas as cidades em que temos grupos. Mantemos reuniões virtuais e algumas aulas”, explica o capoeirista Luiz Antônio Loreto, o Mestre Militar, praticante de capoeira há 32 anos.
Discípulo do Mestre Biriba, outro capoeirista conhecido em Santa Maria e no Brasil, Mestre Militar comanda a Associação de Capoeira de Rua Berimbau, fundada em 15 de dezembro de 2002. A três meses de completar a maioridade, a entidade está presente em 10 cidades, além de Santa Maria. Tem até uma filial na Argentina. Somente em Santa Maria, são cerca de 200 integrantes. Foi a primeira vez em 20 anos que as rodas de capoeira deixaram de movimentar o centro da cidade.
Segundo Mestre Militar, a Associação Berimbau é um projeto social que faz contraponto à “capoeira comercial”, ministrada nas academias. Além das aulas de capoeira, há debates sobre temas políticos envolvendo feminismo, racismo e inclusão social. Para manter aulas gratuitas, os grupos trabalham em projetos governamentais e recorrem a financiamentos coletivos, rifas, risotos e eventos.
“Temos um caráter social, por isso é obrigatório o trabalho gratuito aberto à comunidade, com ou sem apoio governamental. A capoeira comercial fez perder o fundamento original porque os mestres se obrigaram, por questão de sobrevivência, a mostrar só o que a sociedade quer ver. A gente não se preocupa em vender um produto, nossa raiz vem do mercado modelo da Bahia”, diz Mestre Militar.
Seminário online vai discutir feminismo e trabalho social
Uma das atividades que promete movimentar os capoeiristas da Associação Berimbau é o IV Seminário de Capoeira de Rua, que será realizado online este ano. O evento discutirá temas como capoeira e feminismo e capoeira com perspectiva social. As inscrições são abertas e gratuitas. Confira mais informações na fanpage do grupo no Facebook.