Confira os destaques da coluna Giro do Paralelo desta quarta-feira, 2 de dezembro. Uma análise sobre as possíveis causas da vitória do prefeito reeleito Jorge Pozzobom e a derrota de Sergio Cechin.
A polêmica das pesquisas, os apoios que não reverteram em voto, o agradecimento a Farret e o crítico ferrenho que virou aliado são também destaques. O alto índice de abstenções mais brancos e nulos dão um recado são outros temas da coluna.
Pesquisas polêmicas aqui e ali
Nem o mais otimista dos tucanos ou dos demais aliados do prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) imaginariam uma vitória tão folgada em relação ao adversário, o atual vice-prefeito Sergio Cechin (Progressistas), no segundo turno.
Foram mais de 18,3 mil votos. Em 2016, o tucano venceu o deputado Valdeci Oliveira (PT) por apenas 226 votos.
Festa de Pozzobom teve choro, desabafos e carreata
Há muitas críticas às pesquisas feitas e divulgadas pela coligação de Cechin. Foram chamadas de falsas pelo prefeito Jorge Pozzobom.
Mas é fato que o último levantamento do primeiro turno foi praticamente o resultado das urnas, com uma pequena diferença em relação a percentuais, mas não na ordem de votação dos candidatos.
Pozzobom é reeleito prefeito de Santa Maria
Já a pesquisa divulgada na véspera do segundo turno deu o contrário. O levantamento mostrava uma ampla vantagem para Cechin, até um pouco exagerada para o cenário que se apresentava.
As duas coligações faziam sondagens e sabiam da situação do cenário. Pozzobom não era favorito nem em 2016 nem em 2020.
Há quatro anos, era Valdeci, e agora, era Cechin. Até pela ampla coligação e pelos apoios conquistados de ex-prefeituráveis do primeiro turno. Além disso, pesava a favor de Cechin a alta rejeição de Pozzobom.
As propostas de Pozzobom para mais quatro anos
Pesquisas são apenas o retrato do momento, um termômetro. Até os institutos mais tradicionais e renomados erram resultado.
O Ibope, por exemplo, errou feito no primeiro turno e no segundo turno em Porto Alegre. Imagine as que são contratadas por partidos.
Vitória significativa
Pesquisas à parte, o resultado que vale é o das urnas, e a vitória foi, sem dúvida, significativa para Pozzobom. Com bem menos apoio no segundo turno, ganhou com larga vantagem.
Chama a atenção a capacidade de reação da militância do PSDB, que é pequeno em Santa Maria. Foi buscar duas eleições que estavam, praticamente, perdidas: 2016 e 2020.
É claro que, no pleito deste ano, os tucanos tiveram uma ajuda e tanto da esquerda, principalmente do PT, embora a direção tenha recomendado aos militantes a não votar nem em Cechin nem em Pozzobom.
Nunca será dito publicamente, mas os petistas, silenciosamente, foram às urnas e digitaram o número 45.
Resultado surpreendente para os dois lados
O resultado das eleições foi surpreendente para os dois lados. Entre os aliados do prefeito Jorge Pozzobom, havia gente que acreditava que a derrota era inevitável, embora, agora, publicamente ninguém irá admitir.
Se para alguns a vitória não foi surpresa, seguramente, a diferença de mais de 18 mil votos foi. E muito.
Já de parte dos aliados de Cechin o resultado também foi surpreendente pelo favoritismo do atual vice-prefeito e muito mais pela ampla vantagem da derrota.
Apoios não agregaram
No segundo turno, Sergio Cechin acumulou um apoio atrás do outro. Se somaram à candidatura: o PSD do vereador Marion Mortari (PSD), o PSB do ex-secretário Fabiano Pereira, que concorreu a vice no primeiro turno, os ex-prefeituráveis Marcelo Bisogno (PDT), Evandro de Barros Behr (Cidadania) e Jader Maretoli.
Exceto Fabiano, que estava com Covid, todos os outros foram para linha de frente da campanha de Cechin, e estavam nas carreatas.
Tudo indica que, apesar de o candidato progressista ter aumentado a votação de 35.218 votos no primeiro turno para 53.616 no segundo turno, os apoios não se reverteram em votos.
Talvez, pelo fato de os ex-prefeituráveis fazerem um discurso, no primeiro turno, de se apresentar como a mudança ou contra a velha política.
Entretanto, no segundo turno, mudaram de posição, gerando uma contradição. E o eleitor parece ter percebido isso.
Os motivos para derrota de Cechin. A começar pela pandemia
Talvez nem Sergio Cechin nem seus aliados tenham uma resposta para a derrota. E, é difícil mesmo fazer uma avaliação.
Mas eu vou arriscar a enumerar alguns fatores. Cechin era tido por muitos como “negacionista”, diante da pandemia. Repetia que jamais fecharia o comércio. O tema, aliás, polarizou o segundo turno.
A afirmação era repetida com ênfase pelo progressista, justamente no momento em que o contágio pelo coronavírus se alastrava.
Tanto que Santa Maria está na bandeira vermelha. Já Pozzobom insistia em dizer que levava em conta a ciência para embasar suas decisões.
Acusações pesadas marcam reta final da campanha
Sobre a pandemia, o eleitor parece ter ficado do lado do tucano. Aliás, esse foi o motivo de muitos petistas votarem no 45, que, se não ajudaram o tucano a ganhar, deram uma mãozinha na ampla vantagem obtida nas urnas pelo prefeito reeleito.
Condenação exposta no horário Eleitoral
Também deve ter contribuído o horário eleitoral. Nos últimos dias, a propaganda de Pozzobom exibiu, exaustivamente, uma condenação de
Cechin, motivada pela prestação de informações falsas sobre um loteamento popular, na época em que ele era secretário de Habitação no governo Schirmer (MDB).
Na despedida do horário eleitoral, Cechin diz que foi ‘escudo’ de Pozzobom
O candidato explicou que teria sido um “erro administrativo” e que não se tratava de corrupção ou enriquecimento ilícito.
O PSDB explorou muito as consequências da condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ): a perda dos direitos políticos de Cechin, o que poderia ocasionar sua saída da prefeitura depois de a decisão se encerrar em definitivo.
No fim da propaganda, Pozzobom diz que Cechin ‘fugiu’
O eleitor, talvez, não quis apostar em um candidato que poderia não terminar o mandato de prefeito.
Derradeiro debate
Por último, o debate derradeiro na RBS TV, na noite de sexta-feira (27). Quem estava indeciso entre Cechin e Pozzobom, decidiu pelo tucano.
O atual prefeito se saiu melhor, pois dominava mais a máquina, as ações de governo.
Então, a pandemia, a decisão de militantes petistas, a condenação e o debate, certamente, estão na conta da derrota.
Bora governar
Reeleito, o prefeito Jorge Pozzobom tem demonstrado muita mágoa do seu atual vice, Sergio Cechin.
Em cada entrevista, não perde a oportunidade de espinafrar o progressista. afirmando que foi vítima de fake news e sofreu ataques pessoais, que atingiram sua família.
Por outro lado, Cechin e sua coligação também têm queixas do tucano e, igualmente, se dizem vítimas de ataques e notícias falsas.
O fato é que o horário eleitoral foi lamentável e vergonhoso de ambos lados. Não condizia com a trajetória dos dois políticos e nem com a cidade de Santa Maria. Muito menos respeitou o eleitor.
Sem falar no que circulava em rede social.
VÍDEO: Em live, Pozzobom diz que vai comprar vacina
Mas as eleições se encerraram. Aos derrotados, cabe esperar os quatro anos para, novamente, enfrentarem-se nas urnas.
Já aos vitoriosos, cabe arregaçar as mangas é trabalhar muito, a cidade tem muitos problemas e desafios pela frente.
Não há tempo para ficar remoendo mágoas e muito menos espaço para as expor publicamente a todo o momento.
E, depois, os interesses da cidade estão muito acima de qualquer resquício de campanha ou picuinha política. Bora, governar, prefeito Pozzobom!
Recado das urnas
O prefeito Jorge Pozzobom tem repetido que seu governo foi aprovado nas urnas, uma vez que ele seu vice foram os mais votados no segundo turno.
Além disso, foi eleito com mais de 18 mil votos. O tucano tem razão em fazer essa análise, pois ela procede. As urnas falam por si.
Só que, ao mesmo tempo, essas próprias deram um recado. 64.016 santa-marienses não foram votar. Outros 7.935 anularam o voto e 6.788 votaram em branco.
Somados todos, chegam a 78.939. Já o prefeito reeleito, por exemplo, fez 71.927 votos. Isso demonstra que mais de 78 mil não estavam satisfeitos com as opções apresentadas ou com a classe política. Então, é bom ficar com o sinal de alerta ligado.
Sabor especial
O ex-prefeito José Farret (sem partido) preferiu ficar neutro no primeiro turno. Já no segundo turno, não só se posicionou, como també, gravou um depoimento para horário eleitoral a favor de do prefeito Jorge Pozzobom.
Farret, que é médico, tem entendimento que o prefeito conduziu bem a questão da pandemia na cidade e disse isso na propaganda.
Nas eleições de 2016, o ex-prefeito queria que seu partido apoiasse a candidatura de Fabiano Pereira (PSB) até participando da chapa como vice.
Farret foi voto vencido, os progressistas preferiram Pozzobom e Cechin virou seu vice. Desgostoso com seu partido, ele pediu a desfiliação.
À época, alguns progressistas fizeram declarações nada condizentes com a trajetória de Farret, que foi duas vezes vice-prefeito e três vezes prefeito. O rompimento deixou resquícios.
Mas naquele momento, a decisão do Progressistas se mostrou acertada, afinal, Pozzobom foi eleito.
Agora, foi Farret que preferiu apoiar o atual prefeito. Por essas e por outras, a vitória de Pozzobom deve ter um gostinho especial para o médico.
De crítico a aliado
Mais votado nas eleições com 2.686 votos, o vereador Alexandre Vargas, que também é presidente do Republicanos em Santa Maria, foi aliado do prefeito Jorge Pozzobom no início do governo, em 2017.
Mas no final desse mesmo ano, junto com outros vereadores aliados do Executivo, se rebelou e virou oposição.
Ao longo desses quatros anos, foi um crítico do governo tucano. Entretanto, no segundo turno voltou a ser aliado abrindo voto a Pozzobom.
Já seu partido liberou os filiados. E o candidato a prefeito do Republicanos, Jader Maretoli, decidiu apoiar Cechin.
Em meio à euforia no domingo, os aliados de Pozzobom não esqueceram do apoio e chamaram Alexandre para estar presente na comemoração.
A política tem disso: o adversário de ontem pode ser o aliado de amanhã e vice-versa