Paralelo 29

Bandeira preta: Governo alerta para medidas ainda mais drásticas

Governador Eduardo Leite anunciou novas medidas restritivas para conter a Covid no RS/Foto: Felipe Dalla Vale, Palácio Piratini

O governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou, nesta quinta-feira (25), a suspensão do sistema de cogestão e decretou bandeira preta em todo o Rio Grande do Sul a partir de sábado (27) até 7 de março. É uma tentativa desesperada para conter o avanço da pandemia de Covid-19.

Um ano depois da primeira contaminação pelo novo coronavírus no Brasil, o RS e outros estados do país estão à beira do colapso no sistema de saúde, tanto público como privado.

No caso do RS, a ocupação de leitos de UTI passam de 90%, e o Estado teve que acionar o nível mais alto do Plano de Contingência Hospitalar, determinando que todos os hospitais gaúchos, públicos e privados, abram leitos de emergência.

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Objetivo é reduzir ao máximo a circulação de pessoas

Com a bandeira preta, param as atividades que mais geram aglomerações. A estratégia é reduzir ao máximo a circulação de pessoas nesse período.

Com a suspensão temporária da cogestão, as prefeituras terão que adotar os protocolos da bandeira preta. (veja aqui o que muda).

Santa Maria estava na sétima semana consecutiva em bandeira vermelha, passando, agora, para a bandeira de altíssimo risco como em todo o Estado.

Conforme o governador, houve um crescimento muito forte e sem precedentes nas internações em leitos clínicos e de UTI.

Objetivo é reduzir aglomerações e a circulação de pessoas (na foto, fiscalização da prefeitura de Santa Maria)/Foto: João Alves, SC, Divulgação

“Não dá para pagar para ver a partir das medidas já dotadas esta semana. Para dar esse golpe na taxa de contágio, precisamos ser mais restritivos desde já”, disse Leite em reunião com prefeitos das 27 associações.

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Um sistema de saúde à beira do caos

Conforme o governo estadual, a decretação da bandeira preta é embasada em uma nova medida de salvaguarda devido “ao nível crítico de leitos livros e do elevado crescimento na ocupação hospitalar”.

De acordo com a nova regra, a bandeira preta se impõe à medida em que a razão de leitos livres de UTI sobre leitos ocupados por Covid-19 em UTI estiver menor ou igual a 0,35 em nível estadual.

Na situação atual, o Estado se encontra próximo de 0,23, sendo que aproximadamente para cada leito livre há quatro leitos ocupados por pacientes confirmados para Covid-19 em terapia intensiva (UTI).

Capacidade hospitalar está à beira de um colapso no RS/Foto: SES, Divulgação

“O colapso de uma região, consequentemente, vai significar demanda para outra região e, assim, todas estarão fragilizadas. Mesmo que uma região esteja com menor possibilidade de contágio, qualquer contágio que ocorra encontrará o sistema comprometido. É hora de todo o Estado seguir o mesmo protocolo, em um mesmo sentido”, afirmou Leite.

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Restrições vão até 7 de março

Devido ao agravamento da pandemia e da baixa capacidade de atendimento hospitalar, as 21 regiões e seus 497 municípios deverão seguir os protocolos de bandeira preta até, pelo menos, 7 de março. O governo voltará a analisar o cenário depois dessa data.

No diálogo virtual, os prefeitos trouxeram algumas sugestões, incluindo mudanças em protocolos.

Segundo o governador, as questões serão levadas ao Gabinete de Crise, com possibilidade de divulgar atualizações para a próxima rodada.

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“Não podemos deixar de agir”, diz governador

No entanto, apesar de muitos se manifestarem contra a suspensão da cogestão, o Estado decidiu tomar a medida para fazer valer o alto nível de alerta que os dados científicos apontam.

“Não podemos deixar de agir, e temos de agir de forma coordenada, caminhando em uma mesma direção. A corda arrebenta se puxarmos do lado da população, que sofre as consequências”, afirmou o governador.

Ainda conforme Leite, a “pandemia se normalizou no cotidiano, na vida das pessoas, e o vírus está cada vez mais perto das pessoas”.

Nesse sentido, ele acredita que é preciso gerar impacto na rotina da população, já que as campanhas de conscientização não têm sido suficientes.

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Medidas serão reavaliadas na próxima semana

No final da próxima semana, o governo deverá convocar nova reunião com a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) para avaliar os resultados das ações adotadas até aqui.

Além da queda temporária da cogestão, será mantida a suspensão de atividades não essenciais entre 20h e 5h, cujo horário foi ampliado a partir do diálogo com prefeitos.

O Gabinete de Crise também decidiu derrubar temporariamente a Regra 0-0, que permitia que municípios com zero internação e zero óbito nos últimos 14 dias pudessem adotar automaticamente os protocolos da bandeira imediatamente anterior à da sua região.

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Queda acentuada de leitos disponíveis em 15 dias

A decisão tem como base, principalmente, o alto índice de leitos ocupados e o risco altíssimo de esgotamento da capacidade hospitalar do Estado.

Em gráfico atualizado diariamente, Leite mostrou que no dia 7 de fevereiro o RS tinha 720 leitos livres, número que caiu para 292 na quarta-feira (24).

Ou seja, de mais de 700 leitos livres, segundo Leite, houve uma queda para menos de 300 em cerca de 15 dias.

A secretária da Saúde, Arita Bergmann, reforçou a necessidade de se fazer um “enfrentamento coletivo” à pandemia. “Precisamos de uma tomada de posição que pode não ser a que gostaríamos, mas a que se faz necessária para frearmos essa escalada do vírus”, disse Arita.

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Estrutura de saúde não dá conta

O Palácio Piratini ressaltou que a expansão em 125% dos leitos de UTI adulto SUS no Estado foi fundamental para evitar o esgotamento da capacidade hospitalar até o momento.

Contudo, a velocidade de propagação do novo coronavírus e o crescimento das internações por Covid-19 estão muito além do que a estrutura de saúde é capaz de suportar.

Arita ressaltou que em uma reunião em 24 de janeiro não se imaginava que hoje o Estado estaria com uma taxa de 91% de ocupação de leitos de UTI.

Naquela ocasião, a taxa era de 74%. Por isso, segundo a secretária, tudo o que a pasta fez em termos de retaguarda de leitos não está sendo suficiente para dar conta da demanda diária.

“Temos 4.925 gaúchos internados por Covid. É um número maior do que a população de 230 municípios. Para dar conta, seriam necessários 60 novos leitos de UTI por dia. Não temos como fazer 60 leitos novos por dia. Depende de espaço, equipamentos, equipes, vários fatores”, detalhou.

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Cirurgias suspensas e leitos emergenciais

A Secretaria da Saúde acionou, nesta quinta, o último nível da fase 4 do Plano de Contingência Hospitalar, montado no início da pandemia.

Determinação é que hospitais abram leitos emergenciais/Foto: Divulgação, governo do RS

Além da suspensão imediata das cirurgias eletivas (com exceção das cirurgias de urgência ou que representem risco para o paciente), a fase 4 pressupõe a instalação de leitos emergenciais em salas de recuperação e em UTIs intermediárias.

Junto à ocupação dessas áreas, devem ser acionadas as equipes técnicas desses setores, especialmente as equipes médicas e de enfermagem.

Ainda de acordo com a secretária, atualmente, 60% dos pacientes que chegam a leitos de UTI acabam morrendo, e esse número está aumentando.

Ela destaca, ainda, que muitos pacientes sequer conseguirão chegar aos leitos de UTI porque, com o sistema esgotado, não haverá leito disponível.

Mais que isso, Arita Bergmann fez um alerta com base em projeções: se o Estado não fizer nada, o RS chegará a 200 mortes por dia, e a 15 mil óbitos até 15 de março.

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Vice-governador faz um alerta geral

Para ajudar na fiscalização dos municípios e fazer cumprir efetivamente as restrições à circulação de pessoas para reduzir contágio do vírus, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) elaborou um protocolo para fortalecer a ação integrada com as prefeituras.

O planejamento da Operação Te Cuida RS foi apresentado na reunião com a Famurs pelo vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior (PTB). Ele também faz um alerta.

“Se não conseguirmos reduzir a curva da contaminação, talvez tenhamos que tomar outras medidas, ainda mais drásticas, com impacto tanto para o setor privado quanto para a arrecadação do poder público”, alertou.

(Com informações do governo do RS)

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