Paralelo 29

DIOMAR KONRAD – Crônica: A indenização

DIOMAR KONRAD

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Era a audiência final de divórcio. 27 anos de casamento. Os filhos já eram grandes e, portanto, não havia questões de guarda a serem resolvidas.

As pendências em torno dos bens já estavam solucionadas. O juiz decide encerrar a “cerimônia”:

– Bem, então estamos acordados. Desejo felicidades a ambas as partes.

Nisto, o advogado da parte feminina pede para falar. O juiz concede.

– Temos uma última questão ainda a ser resolvida. A questão da indenização…

DIOMAR KONRAD – Crônica: Download

– Nisto o advogado da parte masculina questiona:

– Mas qual indenização?

Ao que o advogado da outra parte responde:  

– Veja bem. Na verdade, temos vários pedidos de indenização. O primeiro seria pelos anos de trabalhos domésticos não pagos, incluindo o cuidado e a educação dos filhos. O segundo diz respeito ao abandono afetivo, que foi aumentando ano a ano, pela falta de carinho e companheirismo. E o terceiro, que diz respeito à falta de oportunidades. Este sim, consideramos o mais grave. Se minha cliente não tivesse abandonado seu trabalho para se dedicar ao casamento, certamente já haveria tempo suficiente para se aposentar. Isso sem falar nas promoções no trabalho, na realização profissional e nas oportunidades perdidas. Ou seja: o que desejamos é uma indenização pelos 27 anos que minha cliente dedicou ao seu cliente, muitas vezes sendo discriminada, rebaixada, colocada em segundo plano. Só para exemplificar, cito o controle remoto em dias de jogo – uma propriedade inquestionável.

Bem que o advogado da parte masculina tentou argumentar:

– Mas o meu cliente também dedicou 27 anos a sua cliente. Decerto, também merecia ser indenizado… Não sei se o senhor sabe, mas um casamento implica em direitos e deveres dos dois lados…

DIOMAR KONRAD: Crônica: O provedor

Ao que o outro advogado interpõe:

– Certamente, mas quem solicitou a separação foi o seu cliente. Então é justo que ele pague a indenização.

Nisto, o advogado da parte masculina solicita ao juiz um pequeno recesso. Atendida a sua vontade, este se reúne com o cliente, que fala:

– Você sabia disto?

– Claro que não. Lançaram a ideia na última hora.

– E como vamos pagar tudo isto? É praticamente a aposentadoria dela que teremos que bancar.

– Quem sabe um acordo…

– Seria como reconhecer que estamos errados. Não sei não…

O pequeno recesso termina. O juiz quer saber o que decidiram. O advogado da parte masculina inicia:

– Optamos por manter o casamento. Não temos como pagar nenhum tipo de indenização.

DIOMAR KONRAD: Crônica – A Abstenção

Mas o advogado da parte feminina faz sua consideração:

– Minha cliente não quer mais ficar casada. Por favor, senhor juiz, temos como começar de novo o divórcio, mas com o pedido da minha cliente. Acho que não deve ser difícil, pois estava tudo acertado.

Nisto o advogado da parte masculina intervém:

– Já que ela quer entrar com o pedido, temos que ver o valor da indenização… Meu cliente perdeu muito nestes 27 anos de casamento…

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