Paralelo 29

KYDO: O significado da insignificância (Parte I)

KYDO

Poeta e escritor

Bom, como já tivemos um início de conversa na semana passada, onde eu termino falando em uma “Cosmologia da Informação”, creio ser de bom alvitre (que palavra cretina essa, parece nome de tempero) explicar como e porque o tema Informação ingressou na minha vida até um ponto em que, hoje, procuro uma abordagem cosmológica da própria.

Isso fica confundido nos tempos quase que com os meus primórdios ou a primeira fase posterior a eles.

KYDO – Crônica: O Universo é vivo – Cosmologia da Informação

Um tempo gostoso de se viver

Entre 1977 e 1985 tinha trabalhado quase que exclusivamente com Teatro. Não que a minha vida fosse um palco iluminado, mas foi um tempo muito gostoso de se viver.

Mas em 1985 retornei para mais uma tentativa de vida acadêmica e ingressei no Curso de Comunicação Social da UFSM.

Mal sabia eu o quanto essa experiência seria marcante na minha vida levando-se em conta que foi no mesmo período em que adquiri os meus primeiros dois computadores: um TK2000 e um TK90X (que ainda existe e funciona).

Quer dizer, a um só tempo eu mergulhava de cabeça na Informática que despontava por um lado, e por outro era estudante de Comunicação.

Paralelo 29 resgata Kydo, poeta e escritor, que andava sumido

Na sala de aula

E foi desse modo em um belo dia (acho que era belo, mas podia também ser cinzento) eu estava em uma aula de Teoria da Comunicação onde duas coisas foram faladas:

  1. A Informação não possui significado e,
  2. Existe uma Teoria da Informação, mas ela não nos diz respeito enquanto Comunicação Social porque é muito matemática.
Foto ilustrativa/José Mauro Batista, Paralelo 29

Ora, como estudante de Comunicação ficar sabendo que existia uma Teoria da Informação que não nos dizia respeito era, no mínimo, instigante.

Bom, todo bom universitário tem sempre uma fase em sua formação que consiste em migrar da aula para o bar e vice-versa quando necessário.

DIOMAR KONRAD – Crônica: O estagiário do Kydo

A biblioteca analógica

Nesse dia eu migrei para a biblioteca. Biblioteca totalmente analógica. Fichários com títulos de livros, áreas de conhecimento e autores.

 Trabalho braçal tanto para quem fez como para quem consulta. E lá fui eu, “Teoria da Informação”: What Porra is This? E encontrei.

Ali estava a ficha, Teoria Matemática da Informação, e outras informações, como corredor e prateleira etc.

 Eu me guiei pelo etc. e fui atrás. A busca foi uma aventura à parte, e qualquer um que já tenha se aventurado em bibliotecas sabe que a gente sempre encontra tudo, nunca o que precisa.


Promotor aposentado e advogado dedica texto a editor do Paralelo 29

O livro invisível

E foi assim: do início ao fim de todas as estantes do corredor, e o livro não estava. Mas era o único livro existente, então a Biblioteca não emprestava. Se não emprestava, tinha que estar ali. E assim fui persistente.

Persistência, a propósito, é uma forma de tentar exaustivamente encontrar o que está irremediavelmente perdido. Mas eu fui e fui com técnica.

O raciocínio por detrás disso (vou usar muita essa expressão) foi o seguinte: se o livro não está visível é porque está invisível.

Se está invisível é porque os outros livros estão visíveis. Se os outros livros estão visíveis é porque não são transparentes.

Assim, fui removendo todos os livros um a um e procurando por trás, nos espaços vazios e escondidos das prateleiras (cheios de poeira, porque ninguém limpa os espaços vazios e escondidos das prateleiras) até que, num pedacinho de espaço vazio um pedacinho de canto de livro aparece, puxo e ali estava ele: Teoria Matemática da Informação.

Quase um opúsculo, perdido num véu de desinformação e descaso.

EDINARA LEÃO – Conto: Bonecas de pano e de pele

Arca Perdida

Se por um acaso o leitor seguiu-me até aqui e não acredita que isso foi uma aventura, a única coisa que tenho a dizer é que o Indiana Jones levou menos tempo para encontrar a Arca Perdida do que eu para encontrar este livro.

Li em pé, ali na biblioteca, já falei que era pequeno. Quinze minutos e o cérebro entrava em turbulência.

Edinara Leão traz militância cultural para o Paralelo 29

No bar da esquina

 A turbulência não passou até hoje, embora o cérebro tenha encolhido um pouco, mas lembro que saí dali, fui ao xerox, fiz uma cópia do livro inteiro e mergulhei direto para casa, passando antes no bar da esquina para pegar um vinho que estava faltando e ler e refletir e viajar.

Como aprender e descobrir coisas novas era uma aventura maior ainda do que tudo o mais!

Naquele livrinho, pequenino, estava toda a Teoria da Informação, com um pequeno detalhe.

Toda a Teoria da Comunicação com todos seus livros e manuais, todos eles, ali dentro também estavam.

LARRÉ – Crônica: Um gato vadio, o mago e Raul Seixas

A origem de tudo?

Era como se tivesse descoberto a origem de tudo. E era matemática. Nada além disso, mas matemática inteligível para quem conhecesse os conceitos, e os conceitos eu tinha do aprendizado da Teoria da Comunicação.

Foto Ilustrativa, ESA, Divulgação

Tendo resolvido a questão (b) do que tinha sido falado na aula, faltava entender a questão (a): por que a Informação não possui significado?

Esse tema fica para a semana que vem, quando então o significado da insignificância tornar-se-á mais significativo.

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