Paralelo 29

LARRÉ – Crônica: O Dia da Terra

LUDWIG LARRÉ

Jornalista

O senador democrata e ativista ambiental norte-americano Gaylord Nelson (1916-2005) já era um tiozão como eu, quando, em 22 de abril de 1970, prestes a completar 54 anos, liderou protestos e manifestações sobre questões ecológicas em cidades como Washington, Nova York e Portland.

O leitor cujo “comunistômetro” (adotarei o neologismo!) apitou, pode encerrar a leitura por aqui.

Afinal, encordoei expressões como democrata, ativista ambiental, protestos, manifestações, questões ecológicas.

Tudo ideologia comunista, segundo a turma que deveria ter feito tratamento psiquiátrico precoce.

LARRÉ – Crônica: Um gato vadio, o mago e Raul Seixas

Pois bem, para quem vai adiante comigo, naquele 22 abril de 1970, oito meses depois de Woodstock, os Beatles (“The BeatLess” – para alfinetar o Barão Von Koff) recém haviam anunciado o fim da banda.

The Rolling Stones emplacavam “Let it Bleed” – 15º álbum de estúdio –, preparavam o lançamento de “Get Yer Ya-Ya’s Out!”, gravado ao vivo, e trabalhavam “Sticky Fingers”.

O grande hit de Bob Dylan era “Lay Lady Lay”.

Dez dias antes, na mesma data em que Sir Paul comunicava o fim do quarteto de Liverpool, ninguém menos que Miles Davis abria o show de The Grateful Dead no Fillmore West.

LUDWIG LARRÉ – Crônica: 1964 e algumas realidades alternativas

Com essa playlist, mais de 20 milhões de pessoas ocuparam as ruas para chamar a atenção sobre temas como poluição, destruição ambiental e efeito estufa.

Oito meses depois, o governo norte-americano criava a Agência de Proteção Ambiental.

Em 1972, em Estocolmo, ocorreria a 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. Em 2009, a ONU oficializou 22 de abril como Dia Mundial do Planeta Terra.

No Brasil, neste ano de 2021, a data foi marcada pelo discurso vazio, as promessas vãs e a tentativa de cobrar por proteção – bem ao estilo miliciano – por parte do presidente da República.

LUDWIG LARRÉ – Crônica: “Passos do Vislumbre”

O ministro Passa Boiada segue prestigiado em sua política de devastação ambiental. O Maníaco da Motosserra é apenas mais um no primeiro escalão de degenerados morais e intelectuais do executivo federal.

Minha preocupação com a questão ambiental vem de muito antes. Sempre esteve comigo. Na verdade, é inata.

É junto à natureza que me sinto parte do universo. Leio sobre o tema desde criança.

No final da infância, acompanhava as aventuras de educação ambiental do Sapinho Hortêncio, personagem infantil do teatrólogo João Teixeira Porto, interpretado pelo ambientalista e professor James Pizarro no Programa “Era Uma Vez”, apresentado por Maria Elena Martins na Rádio Universidade da UFSM.

LUDWIG LARRÉ – Crônica: Dummheit uber alles

Já na adolescência, era ouvinte assíduo do professor Pizarro no programa “Antes Que a Natureza Morra”, na mesma emissora educativa.

Ainda nos anos 1970, assisti a primeira de muitas palestras de José Lutzenberger.

Desde então, planto árvores sempre que possível, busco viver um modelo de consumo sustentável e separo meu lixo.

Aliás, tem dedo meu na implantação da coleta seletiva de lixo em Santa Maria, nos anos 1990, fato que conto em outra oportunidade.

LUDWIG LARRÉ – Crônica: Teteza

Na parede do meu quarto de jovem secundarista e depois universitário, havia um pôster de um velho nativo americano.

“Somente quando a última árvore for derrubada, o último peixe for pescado e o último rio for envenenado é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro”, dizia o provérbio do povo Cree.

Já mais recentemente, quando o amadurecimento proporcionou o equilíbrio, o resgate e a evolução daquela essência inata de pertencimento ao meio-ambiente, tenho desenvolvido e aprimorado certas comunhões telúricas e espirituais.

Meio druida, meio xamã, passei a sentir e a entender com outra intensidade e acuidade a linguagem e a energia da Natureza.

LUDWIG LARRÉ – Crônica: O carcinoma no tecido social

O Universo está mandando mensagens claras para quem estiver disposto a assimilar.

A humanidade corre contra o tempo, não apenas para refrear, mas para reverter um processo de extinção em pleno curso.

O planeta, por sua vez, ao longo de 4,5 bilhões de anos, já passou por sete processos de extinção em massa entre o período Cambriano e o Holoceno.

Cada um desses processos extinguiu formas de vidas predominantes para que, com o passar das eras geológicas, a evolução definisse o surgimento de outras formas de vida.

Nós, humanos sapiens, surgimos há apenas 300 mil anos. Ou seja, se colocarmos a História da Terra numa escala equivalente a 24 horas, só passamos a existir às 23h58min e 43 segundos.

Paralelo 29 tem novo cronista: Ludwig Larré

Não estávamos aqui quando ocorreu a última extinção em massa, no Holoceno, mas caminhamos a passos largos para nos tornarmos protagonistas do fim da própria espécie.

Se não desintegrarmos o planeta, a Terra sobreviverá à nossa breve e destrutiva existência. A vida ressurgirá de alguma forma que ainda não conhecemos.  

Se pretendemos, porém, continuar existindo como espécie a bordo deste corpo celeste que gira na terceira órbita a partir do sol, precisamos estabelecer uma nova relação com o planeta.

JULIO PUJOL – Opinião: A segunda onda

Ailton Krenak, um dos principais pensadores indígenas do Brasil, em “Ideias para adiar o fim do mundo” (Companhia das Letras, 2019), afirma que “Fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. (…) Tudo é natureza. O cosmos é natureza”.

Para a turba que considera consciência ambiental “coisa de comunista”, vale lembrar o descaso de países como a Rússia e a China para com políticas ambientais (bem como para valores como democracia, liberdade e direitos humanos).

Já tive “direitômetros” apontados em minha direção ao fazer essa observação. 

A questão ambiental não é ideológica, mas sim de sobrevivência da espécie humana.

KYDO: O significado da insignificância (Parte I)

E ela passa, sim e inevitavelmente, pelo combate às desigualdades sociais e pela garantia de condições mínimas de saúde, saneamento básico, alimentação, moradia, educação e trabalho para todos os povos que respiram da mesma atmosfera.

A atual pandemia e as que se sucederão são conseqüências diretas do desequilíbrio sócio-ambiental.

Só há dois caminhos para a humanidade. Ou o ser humano adota modelos de produção e consumo sustentáveis, aliados a medidas de recuperação ambiental, ou estamos fadados a desaparecer da face da Terra num novo processo de extinção.

SABRINA SIQUEIRA – Opinião: O BBB e a vida

Pode ser amanhã ou depois, com o surgimento de uma nova cepa viral, ou pode se prolongar por mais algumas décadas em lenta agonia consequente do aquecimento global.

É questão de tempo e não existe outra opção. “Volta que deu merda” é a mais urgente das palavras de ordem.

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