Paralelo 29

Artigo: O nosso luto a gente (re) inventa

Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil

BELINA SILVA PEREIRA

Psicóloga*

A perda é uma condição inerente à vida humana. Mais cedo ou mais tarde, conheceremos a sua dor, seja pelo fim de um relacionamento, de uma amizade, da saúde, da saída da casa dos pais, do fim da infância, adolescência e juventude, dos filhos que saem de casa, de um emprego, de um animal de estimação, entre tantas outras que fazem parte de nossa existência.

Todos os dias convivemos com a morte, seja pelo dia que termina, por uma folha que cai de uma árvore, por um cortejo fúnebre que corta a cidade.

Ainda assim, nem sempre nos damos conta que há um fim para tudo. Perder alguém que amamos para a morte é a experiência mais traumática que a vida pode nos impor.

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Nunca estamos e nunca estaremos preparados. É ser aprisionado em um sofrimento que parece não ter fim.

É ter a “alma amputada” pelo vazio, pela solidão, pelo desamparo, pela falta e saudade de quem se foi, muitas vezes sem tempo para despedidas.

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O luto, muito embora seja penoso, é necessário para podermos nos adaptar a uma nova realidade e encontrar forças para seguir em frente, agora sem a presença de quem partiu.

É todo um processo de amadurecimento, que auxilia na elaboração de nossas perdas.

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A superação do luto depende das particularidades de cada um e, por isso, não deve haver comparações, tampouco uma data pré-determinada para seu fim.

Momentos importantes na elaboração do luto, como o velório, o cortejo fúnebre, as homenagens e as despedidas com a participação de familiares, parentes e amigos estão proibidos de acontecer por conta da pandemia da Covid-19.

A pandemia nos roubou de várias formas, só não tirou a nossa capacidade de se (re)inventar. Estamos (re) descobrindo novas formas de existir e também de viver o luto.

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As  despedidas e cerimônias virtuais, certamente, não substituem àquelas que eram presenciais.

Mas poder construir, junto de familiares, parentes e amigos, novas formas de homenagens e despedidas, são novos caminhos que contribuem para a aceitação de que aqueles que partiram  não voltam mais. 

É o momento de lembrar, de falar de quem se foi, de chorar, de sorrir, de compartilhar a dor da perda.

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Num primeiro momento, tudo isso pode parecer muito estranho, estranho mesmo, é o fato de não poder se despedir de quem amamos. É se (re) inventando que vamos dando novos sentidos a nossa vida.

*Belinda Silveira Pereira é mestre em gerontologia, especialista em Psicologia do Trabalho e das Organizações, especialista em Organização Pública de Saúde e orientadora profissional e de carreira

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