Paralelo 29

KYDO: As Fronteiras Informacionais

KYDO

Poeta e escritor

Eu finalizei o último artigo com uma afirmação, a de que os significados e as insignificâncias estão muito próximos entre si.

E essa afirmação decorre da noção de que não é possível identificar nenhum significado intrínseco à informação em si, enquanto tal.

O significado resulta de um processo pertinente a quem recebe ou identifica uma mensagem e a esta mensagem atribui determinado resultado.

Este resultado pode ser tanto uma simples adição numérica: 2+2=4 (que nada tem de simples em termos interpretativos) como também um “estou sendo amado” após à percepção de um lânguido olhar meloso.

É primordialmente a ação interna que nos faz compreender o mundo ou ao menos tentar.

KYDO: O significado da insignificância (Parte I)

UM NOVO TEMA DENTRO DE TUDO

Vejam que agora surgiu um novo tema dentro de tudo o que tinha sido abordado até agora.

Eu passo a falar em ação “interna”. Essa internalidade pressupõe a existência de uma externalidade.

Como isso pode ser entendido dentro de uma perspectiva informacional? Essa indagação fez parte do meu cônscio-inconsciente-próximo-e-distante por muito tempo.

E eu nem fazia ideia do que fosse exatamente isso, apenas que era algo que me intrigava.

UMA COISA QUE SE TRANSFORMA EM OUTRA

Por vezes, na vida, há uma névoa que turva a claridade do pensamento. As perguntas certas não são feitas e as respostas às perguntas incertas são ainda piores.

Foi só quando encontrei o rumo particular na forma de pensar e quando comecei a argumentar comigo mesmo é que um prelúdio de compreensão começou a se fazer distante. A pergunta aparentemente correta que encontrei foi a seguinte:

• Se em algum momento a mensagem recebida, constituída de informação (desprovida de significado) é interpretada por mim, em que ponto do caminho ela deixa de ser mensagem informativa (feita exclusivamente de informação) e passa a ser mensagem interpretada (aquela que produz um resultado)?

Essa pergunta, apenas pela sua existência, leva-me a conclusão específica da existência de dois espaços.

Um espaço informativo (onde as informações e mensagens trafegam livremente) e um espaço interpretativo (onde as mensagens já possuem resultados atribuídos).

A resposta óbvia é que existe algum lugar no espaço ou no tempo ou em ambos, um ponto qualquer em que uma coisa se transforma em outra.

A isso chamei de Fronteira Informacional.

KYDO – Crônica: O Universo é vivo – Cosmologia da Informação

O PONTO CHAVE

O ponto chave aqui, que é o que consolida a argumentação, é que em determinado e preciso instante ocorre a mutação, o que antes era informação pura transforma-se em informação processada.

Sob determinadas condições é fácil imaginar quando e onde isso acontece (tempo e localização), em outras não; tenho a possibilidade de determinar o tempo, mas não posso absolutamente determinar o onde.

Vamos tomar a mim mesmo como exemplo, uma pessoa quase que absolutamente humana, mas também o exemplo da ameba é igualmente viável.

Imagem da estrutura de uma célula/UFPR, Divulgação
Estrutura da pele humana/Ilustração Reprodução

Ambos são verdadeiros e originais, apenas a dificuldade que tenho em pensar como uma ameba verdadeira pensaria (minha empatia não chega a tanto) é que me faz o pretenso exemplo de alguma coisa.

SE VOCÊ ME INTERPRETAR COMO AMEBA…

Agora, se você, leitor, me interpretar como ameba não faz a menor diferença, eu já estou satisfeito.

É sinal de que a minha mensagem está sendo pontualmente interpretada, humana ou amebianamente interpretada.

Assim, quer seja eu um humano ou um amebiano, alguma película deve me envolver.

Essa película, que como humano, chamo de pele e como um humano pretensamente culto chamaria de epiderme, está na minha superfície.

Não é uma superfície perfeita, já que é toda esburacada, mas de qualquer forma envolve aquilo que o meu consciente humano (não a minha consciência amebiana) entende como sendo eu mesmo.

Imagem de uma ameba/Foto: Fapes, Divulgação

Essa superfície apresenta uma característica peculiar, é opaca a todas as frequências eletromagnéticas (em particular à luz visível) salvo uma pequena parte, na altura dos olhos, onde é transparente a este conjunto de frequências.

Paralelo 29 resgata Kydo, poeta e escritor, que andava sumido

SENSIBILIDADE INACREDITAVELMENTE EXTRAORDINÁRIA

Por outro lado, essa mesma superfície é sensível à compressão mecânica, possuindo em dois lugares específicos, internamente aos ouvidos, uma sensibilidade inacreditavelmente extraordinária.

Continuando, essa mesma superfície prolonga-se de forma acentuada para dentro do próprio corpo através de 5 ou 6 orifícios (dependendo do gênero). Três localizados na face, e dois ou três localizados na pélvis.

Iniciando na face e terminando na pélvis, uma dessas superfícies devido a sua provável aparência tubular é notoriamente denominada tubo digestivo.

É onde uma face da superfície do corpo abre-se ao espaço externo com uma aparente internalidade ao corpo.

Na sua porção superior, conhecida como boca, uma superfície fantástica possui a característica de que além da pressão, ser suscetível à detecção da presença das substâncias que estão próximas a adentrar o nosso espaço interno. E o que vem a ser esse espaço interno.

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A INFORMAÇÃO QUE ME FAZ GENTE

Bom, como ele é espaço, não é absolutamente parte do corpo, mas é um espaço cativo, capturado pelo corpo ao espaço externo, onde o meu ser, inacreditavelmente, expele ácidos e bases capazes de degradarem proteínas, gorduras e açúcares a tal ponto que as moléculas resultantes possam adentrar, aí sim, adentrarem o interior do meu corpo que é onde residem as informações que me fazem gente. Depois, só para não alongar a descrição, a água é absorvida e o resto é bosta.

É fácil pensar no tubo digestivo como sendo um espaço oco dentro do corpo, e, portanto, fora dele. Mas há outras superfícies também localizadas internamente, mas de contato externo.

A maior delas é o sistema respiratório onde 2 orifícios situados na face conduzem o ar atmosférico para dentro de um espaço aéreo controlado, cuja superfície é muitas vezes maior que a do tubo digestivo, e é responsável pelas trocas gasosas.

ORIFÍCIOS, SUPERFÍCIES E PROJETO DE VIDA

Mais uma vez o corpo torna-se permeável. Depois disso temos uma superfície que aflora do corpo para fora, a única que não possui uma entrada, por onde fluem os nossos efluentes químicos dissolvidos em água, por assim dizer. A isso chamamos de sistema urinário.

Por último, a nossa principal característica, que envolve a perpetuação da nossa identidade informativa, ou genética, ou digam o que quiserem dizer: o orifício onde entra um projeto de vida e dele sai outra vida completa.

O orifício vaginal prolongasse até o útero (externo ao corpo) e posteriormente até às trompas.

As trompas têm uma característica excepcional, que é a de capturarem um elemento ordinariamente interno e transportá-lo a um espaço externo, onde terá a possibilidade de transformar-se em um novo indivíduo.

Estrutura microscópica da pele humana/Reprodução

De todas as superfícies internas ou externas que apresentei aqui, a superfície dos órgãos reprodutivos femininos é a única onde a superfície termina dentro do corpo de forma aberta. É uma superfície fechada, mas aberta para a posteridade.

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O LIMITE ENTRE O QUE SOMOS E O UNIVERSO

Agora fico pensando que talvez tenha pensado demais como ser humano. Talvez minha peculiar consciência amebiana tivesse tornado tudo mais fácil. Bastaria invocar a membrana celular, mas até que ponto nós temos consciência de que nós todos, cada um, absolutamente, somos o resultado de trilhões de membranas celulares?

Essas são todas as nossas superfícies, pelo menos as nossas superfícies humanas.

E as nossas superfícies (visíveis externamente e invisíveis internamente), são o limite entre aquilo que somos e aquilo que é o Universo.

Elas, na verdade, delimitam o que eu sou, ou a informação que eu capturo do Universo e torno pessoal, daquilo que o Universo é em si.

A discussão das superfícies vai nos conduzir obrigatoriamente a uma discussão estrutural sobre a informação e a algo mais fundamental ainda, que entendo como sendo uma das propriedades intrínsecas da Informação, que é a tendência de autoduplicação.

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DO MINÚSCULO AO MAIÚSCULO

Assim, partindo da premissa de que para que exista uma Fronteira há a necessidade lógica da existência de uma Estrutura;  e como sempre uma indagação leva a outra, então surge esta nova pergunta: o que seria uma Estrutura Informacional?

E se a Informação é representada apenas por bits de quantos bits eu preciso para montar uma Estrutura? E por aí vai.

Indagações, indagações, indagações. Vamos nos concentrar apenas na Estrutura Informacional.

Toda a Informação contida no Universo aparenta estar organizada em uma forma individual hierarquizada. Do minúsculo ao maiúsculo encontramos infinitos e diferentes mundos.

Aceitando que a minha própria pessoa é uma estrutura, não posso negar que essa mesma estrutura é constituída de muitas e muitas outras estruturas diminutas, que nada são qualitativamente superiores a nossa tão evocada ameba.

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HÁ DIFERENÇA ENTRE UM HUMANO E UMA AMEBA?

Eu me lembro do meu tempo de Comunicação Social, quando afirmava que do ponto de vista da Informação, a diferença entre um Ser Humano e uma Ameba era praticamente nenhuma.

Hoje eu já digo diferente, do ponto de vista informacional o ser humano e a ameba não têm nenhuma diferença, ambos lutam por sua existência.

E a existência de um não é melhor do a existência do outro ou vice-versa. O Universo permanece o mesmo.

Louvadas sejam as amebas portanto, porque elas herdarão os templos evangélicos.

Bom, depois deste momento benigno da mais pura e quase sublime inspiração quase que religiosa, por assim dizer, vou colocar a questão das Estruturas Informacionais como o tema do próximo artigo. Até a próxima.

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