JOÃO EICHBAUM
Advogado e escritor
A estação rodoviária, onde esperei em vão por você, não passava de um ponto de ônibus.
Ficava ao lado da igreja da Igreja Episcopal, dividida por uma parede com o Vera Cruz, o restaurante do português.
Dali partiam ônibus para a Quarta Colônia, Boca do Monte, Dilermando de Aguiar, São Pedro, etc.
Desses lugares vinha gente em busca dos recursos que lhe complementavam a vida: saúde, vestuário, calçados.
Então era um vaivém contínuo entre a chamada rodoviária e os ônibus que ronronavam na frente.
JOÃO EICHBAUM : Crônica de uma cidade com duas histórias
Ali, não era ponto de adeus, com lágrimas, angústias e apertos do coração, como as despedidas na gare ferroviária provocavam.
Na gare, ao estilo cerimonioso do alto-falante do Ceguinho, anunciando a partida do trem, seguiam-se as badaladas do sino, a bandeira vermelha acenada nas mãos do chefe de trem, o lento ranger das rodas do comboio, e a marcha “El Capitán”, que acomodava nos ouvidos a lembrança de alguém se despedindo.
Quase um espetáculo de ópera, que, no último ato, no libreto do destino, poderia incluir silvos plangentes, pedindo socorro.
Como o daquele trem noturno que deixara dezenas de cadáveres debaixo de nove vagões tombados, na mais triste madrugada da história da cidade, antes da Kiss.
Então, não havia motivo para chorar, na frente daquele prédio sombrio, por onde vagavam cheiros de frituras, enviados pela cozinha do português, e no meio do povo apressado, carregando malas e sacos, levados em cima dos ônibus.
Jornaleiro, jornalista, juiz, escritor…Conheça o novo cronista do Paralelo 29
Nada ali evocava a lembrança de alguém que partira sem voltar. Mas chorei quando o ônibus passou à frente da catedral.
Não porque estivesse sentindo o coração machucado, pelo abraço que você não me deu, ou por estar partindo sem o consolo de seu adeus: estava entendendo esse adeus.
Naquela escadaria, onde o indefectível mendigo estendia o chapéu para os passantes, você me havia suplicado, com lábios trêmulos, as lágrimas tornando mais rútilo o verde de seus olhos: “por favor, não me deixe”.
Chorei, então, porque compreendi: seu adeus não fora em palavras, mas em lágrimas. E elas não tinham outro sentido, senão o do amor, esse remédio patenteado para a vida e para a morte.