Paralelo 29

GILSON PIBER: Covid, pobreza e fome

Foto: José Mauro Batista, Paralelo 29
GILSON PIBER

Jornalista

Se não bastassem as quase 500 mil mortes causadas pela covid-19, a pandemia também fez aumentar a pobreza e a fome no Brasil neste período. Números do final de 2020 mostram que 19 milhões de brasileiros estão em situação grave em relação ao acesso à alimentação.

Os dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar em Contexto de Covid revelam que 55,2% da população brasileira sofrem alguma ameaça ao direito aos alimentos.

A situação mais severa atinge a mesma parcela vítima da extrema pobreza, principalmente mulheres chefes de família, pretas ou pardas, com baixa escolaridade e trabalho informal.

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O estudo aponta que a pandemia provocou o agravamento de um problema que já vinha acontecendo há algum tempo. O panorama é pior na área rural e nas regiões Norte e Nordeste.

De acordo com Ana Maria Segall, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), a crise sanitária espalhou a fome por todo o país.

“Mesmo regiões como Sul e Sudeste, que são regiões um pouco mais protegidas dessa situação, ainda tinham em torno de 50% de suas famílias também em situação de insegurança alimentar. Apenas 53% delas tinham garantia de acesso pleno aos alimentos e uma insegurança alimentar grave em torno de 6%, chegando a mais de 10% moderada e grave”, enfatizou Ana Maria.

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Conforme Janine Giuberti, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o crescimento de consumo de alimentos ultraprocessados durante a pandemia, na faixa etária entre 45 e 55 anos, aumenta o risco de depressão, câncer e morte prematura. Falta, portanto, “comida, e de qualidade”, para mais da metade da população brasileira.

E vale lembrar que o governo federal promoveu, em 2019, via a Medida Provisória 870, a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea). Na época, o nutricionista do Idec, Rafael Arantes, disse que o fim do Consea representava uma grande perda para os brasileiros.

“Inúmeras ações que resultaram em uma alimentação mais saudável e sustentável para milhões de pessoas passaram ou foram iniciadas dentro do conselho”, afirmou Arantes.

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Já a professora Inês Rugani Ribeiro de Castro, do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, disse que a extinção do Consea representou “uma afronta à democracia e um retrocesso social, uma vez que desmontou um espaço de participação, um dos pilares da democratização do Estado, conforme pactuado na Constituição Federal.”

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Enfim, de acordo com a economista e ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, a destruição de políticas públicas no Brasil no combate à fome também é consequência da “precarização e a desestruturação da legislação trabalhista no Brasil, que se vendia como sendo melhor por tirar burocracia”, mas que na realidade “desprotege a população”.

Não é à toa que o Brasil voltou a ser incluído no Mapa da Fome.

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