Paralelo 29

MEL INQUIETA: …E as estações do ano dão cores e asas às palavras

Mel Inquieta, poeta, escritora e jornalista/Foto: AsaPhoto

“Triste

O silêncio

Profundo

Que desconhecia

Ouviu a própria voz

E ela era muda”

Assim, com essa teia de palavras, a poeta Melina Guterres, a Mel Inquieta, provoca o leitor a imaginar e a imaginar-se diante do espelho do tempo.

Então imagine-se outono, como ela propõe no poema OUTONOU-SE. Mais que simplesmente passear por um outono com suas folhas caídas, Mel faz um convite para quem quiser flanar por outras estações.

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OUTONOU-SE

E a alegria

Fez um voto de silêncio

Calou-se

Diante do templo

Recolheu-se

Escondeu-se

Dentro de si

Sem mais espelhos

Transformou-se

Sem interferências

Tocou-se

Acariciou

Própria face

Sentiu o sorriso

Triste

O silêncio

Profundo

Foto: Melina Guterres, Rede Sina

Que desconhecia

Ouviu a própria voz

E ela era muda

Assumiu a surdez

Brindou o fim dos tempos

Sobrevoou invernos, infernos

Eras, ervas, perfumes, primaveras

E outros verões

Sua alma, outono.

Caiam folhas,

Máscaras,

Rosnou

Riu,

Não era alegria,

Era a beleza mais pura,

Era ela,

Sem adjetivos do nunca

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Aventura no cadarço do salto alto

Em ANDORAR, Mel proclama: “Tenho uma aventura amarrada no cadarço do meu salto alto”. E prossegue a poeta a andejar, ou melhor, voar sobre trilhos, com o trem. E levitar como o mendigo que tudo se desfez.

Nesse poema, que também tem estação do ano, Mel cria cores e ventos, reflete-se em espelhos, faz alquimia e parte, livre, do passado para o presente, como o voar das andorinhas.

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ANDORAR

Tenho uma aventura

Foto: José Mauro Batista, Paralelo 29

amarrada no cadarço

do meu salto alto

Pedras não suportam

o peso de mi alma

viram areia e amaciam

o andar

Pelo trilhos

voo com o trem

e levito como

o mendigo que de tudo se desfez

Pareço torta,

levo o velho rock na escuta,

toco minha gaita de boca imaginária

escrevo sobre doentes a duendes

tenho um lado escravo

um passado de luta e preguiça

tenho uma meia carteira

cartas a serem enviadas

personagens a escrever

histórias a contar e outras a criar

tenho um saco do tamanho da minha gaveta

e um cigarro de palha para não esquecer

que o campo é meu vizinho

a terra fria e seu inverno aquecido

a la lenha e chimarrão

tenho o voo da borboleta

em mãos

e desenho o mapa

de mi vida com

tinta óleo

crio cores e ventos

sou reflexo, espelhos

um balaio de fantasia

jogo pimenta

faço alquimia

saio livre

e parto do passado para o presente

com o voar das andorinhas…

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Sinestesia pura

A poesia é isso: linguagem. Mais que sentimento, é palavra no papel. Não qualquer palavra, mas aquelas que se encaixam no fazer poético.

Aquelas que dão cor ao poema. Que emitem sons. Que espalham cheiros. A poesia de Mel é isso, sinestesia pura.

Mel Inquieta ou Melina Guterres, poeta, jornalista, escritora e roteirista divulga seus poemas (e de outros poetas) na Rede Sina, plataforma de produção de conteúdo que ela fundou e administra.

A poesia de Mel também está no Instagram, no perfil Poesia com Mel.

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