Paralelo 29

BELINDA: Feliz para sempre?

BELINDA PEREIRA

Psicóloga

O grande dia se aproximava. Todos os convites já haviam sido distribuídos, contratado o melhor buffet da cidade, igreja, padrinhos e madrinhas escolhidos, tudo estava conforme deveria estar. No ateliê, Liana, ao se olhar no espelho, vestida de noiva, suspira dizendo:

– Afinal, está chegando o dia em que serei feliz para sempre!

Ao fazer tal afirmação, não sabe que está sonhando muito alto. Desconhece as exigências que o feliz para sempre traz consigo e que a farão questionar sobre a sua escolha.

Assim como Liana, muitos de nós levamos para o casamento inúmeras expectativas românticas. O enlace não deixa de ser uma tentativa de realizar nossas fantasias, preencher nossos vazios e nossas carências.

BELINDA PEREIRA: Quartinho dos fundos

Buscamos na pessoa amada, já idealizada por nós, a realização de todos os nossos desejos. Ansiamos por amor, de preferência que seja incondicional, tal qual o que recebemos de nossos pais quando éramos crianças.

Somos produtos da nossa trama familiar, a qual molda as esperanças que construímos a respeito do enlace amoroso. Tentamos encontrar no outro as figuras amadas do nosso passado.

Com o passar do tempo, começamos a perceber que aquela pessoa não corresponde a tudo que idealizamos. Frustrados em nosso objetivo, nos sentindo mal amados, nos pegamos, muitas vezes, odiando a pessoa amada.

Imagem ilustrativa: Reprodução

É certo dizer que nem mesmo os casais mais felizes conseguem evitar, vez ou outra, sentimentos hostis. E a relação que era boa começa a ficar ruim. É a ilusão de completude descendo a ladeira.

BELINDA PEREIRA – Artigo: Amor de Mãe

Mesmo sendo protagonistas de pancadarias, gritos, infidelidade, falta de romance e de companheirismo, intolerância, disputas, pouco sexo ou até mesmo a sua ausência, e por aí adiante, ainda assim, muitos casais estão unidos por um laço bem mais forte, que nem todos os malefícios que um pode causar ao outro consegue desatar.

E quem foi que disse que o casamento tem que ser um lugar somente de delícias?

Artigo: O nosso luto a gente (re) inventa

Alguns anos mais tarde, em uma noite morna de verão, Liana, uma romântica frustrada, desiludida com seu casamento, no qual não realizou o sonho de ser feliz para sempre, está sentada na varanda ao lado de seu marido.

Com o olhar perdido, contempla o céu repleto de estrelas, suspira e pensa: “o que que eu estou fazendo aqui? E quem é esse estranho que está sentado ao meu lado?”.

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