Paralelo 29

BELINDA: Aprendendo a ser homem desde piá

Foto: Elza Fiúza, Agência Brasil

BELINDA PEREIRA

Psicóloga e orientadora profissional

Paulinho entra em casa chorando. A mãe pergunta o que aconteceu e ele diz, entre lágrimas:

– Me bateram na escola.

A mãe diz para parar de chorar, porque homem não chora.

– Quando seu pai chegar, não vai gostar nada do que aconteceu. Paulinho escuta atento, enxuga as lágrimas e volta para a rua.

Assim como Paulinho, os meninos desde pequenos são educados para serem homens. Para tanto, é necessário que escondam seus sentimentos e com isso vem a dificuldade de expressar aquilo que sentem.

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O modelo dominante do que é ser homem em nossa sociedade ainda corresponde a certos ideais: homem que é homem não se queixa, não sofre, não chora, não fala de seus sentimentos, não leva desaforo para casa, não apanha na rua, não sente medo, não nega fogo na hora do sexo, não é frouxo, protege a mulher, é pegador, é o provedor e chefe da família…

Infelizmente, este é um modelo que ainda persiste em nossa sociedade. Amor, insegurança, medo, choro, tristeza, fracassos, solidão, alegria e falta de vontade de fazer sexo são entendidos como “coisas” de mulher e, por conta disso, não pertencem ao universo masculino.

BELINDA PEREIRA: Quartinho dos fundos

Muitas são as consequências desta austeridade na construção do que é ser homem para a saúde e a vida. Evitam procurar o médico para não serem vistos como fracos. Dificultando medidas preventivas de saúde como é o caso do tão temido exame contra o câncer de próstata que desperta angústia e medo da homossexualidade e da impotência.

Outra é a falta de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis, muitos se recusam a fazerem uso da camisinha. Se envolvem em situações de perigo, violência e acidentes, muitas vezes fatais.

Fazem uso deliberado do álcool, fumo e outras drogas. Não pedem informação e nem ajuda para não se sentirem dependentes e diminuídos.

Detestam admitir que não sabem de algo para não passarem por ignorantes. Por conta de tudo isso e muito mais é que vivem menos do que as mulheres.

Ajuda psicológica? Ainda são a minoria. Afinal, foram educados para não falar de seus sentimentos e resolverem seus problemas sozinhos. E com isso esquecem que são humanos.

Psicóloga passa a ser colunista do Paralelo 29

Algum tempo depois, Paulinho entra correndo dentro de casa e diz:

– Pronto! Me vinguei do Evandro. Fui lá e bati nele.

O pai, todo satisfeito, diz:

– Isso mesmo filho. Nada de levar desaforo para casa. Tem que se impor e falar grosso. Nada de apanhar na rua e vir chorando para casa, feito mulherzinha. Assim é que se aprende a ser macho de verdade.

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