Paralelo 29

FABRÍCIO SILVEIRA: Um presidente sem qualidades

FABRÍCIO SILVEIRA

Professor universitário e pós-doutorando em Comunicação

Os termos depreciativos à disposição na língua portuguesa já não dão mais conta de Jair Bolsonaro.

Ou perdem o sentido, de tanto que são usados, ou se revelam imprecisos, logo insuficientes, tamanho o descalabro da conduta de nosso atual presidente.

E não é só uma questão de proporção, de ênfase excessiva num aspecto restrito de seu (mau) caráter ou de seu (mau) comportamento. Não se trata de uma fraqueza pontual e perdoável.

A ausência de qualidades é tão ampla e tão diversificada – se dá em tantas frentes – que nos surpreende.

FABRÍCIO SILVEIRA: O Resgate do Soldado Ryan – na CPI da Pandemia

Poucas pessoas – no país, no mundo, nos livros de história – parecem tão amplamente desprovidas de virtude. Pouquíssimas.

Uma pesquisa recente, feita pelo Instituto Datafolha, atestou que a maioria dos brasileiros considera o presidente como “pouco inteligente”, “despreparado”, “desonesto”, “indeciso”, “incompetente”, “falso” e “autoritário”.

Dentre nós, dois terços suspeitamos haver corrupção – e não só incompetência – norteando as ações do governo hoje instalado no Palácio do Planalto.

FABRÍCIO SILVEIRA: Guerra híbrida – pelo controle da máquina do Estado

Em março último, Mariliz Pereira Jorge utilizou sua coluna na Folha de São Paulo para relacionar adjetivos desabonadores ao presidente da República. Chegou a quase duzentas expressões em uso.

Antes dela, em janeiro – num texto, aliás, bastante parecido –, o jornalista Ruy Castro listou 24 epítetos negativos tentando definir, sem efetivo sucesso, o chefe da Nação.

Há alguns meses, a designação de “fascista”, por exemplo, já não serve mais. É como se tivesse perdido o viço, perdido a capacidade de nomear ou produzir significados consistentes.

Bolsonaro coleciona adjetivos por conta do seu comportamento/Foto: Marcelo Camargo, Agbr

FABRÍCIO SILVEIRA: Nosso desastre republicano

“Genocida” é agora a expressão da vez, a qual recorrem oito entre cada dez brasileiros. E sabe-se lá que outras caracterizações estaremos empregando nas próximas semanas.

É triste porque tudo isso nos esgota, exaure nossa linguagem e nossa paciência. É triste porque tudo é em vão. Ninguém o pune. Não há reparo.

Nada o corrige. Nada nos tranquiliza. E assim somos forçados a naturalizar o que nos parece vil, despropositado, mau e ineficiente. Nossas palavras não dão conta. Sequer podemos fugir do país.

FABRÍCIO SILVEIRA: Falando sozinho

Dia desses, em minhas redes sociais, alguém me consolou: disse-me que, às vezes, se contentava em imaginar o quanto seria bom acordar numa manhã de sol – num futuro próximo, de preferência – e se dar conta de que Bolsonaro não amola mais, foi retirado de nosso convívio, foi deposto, foi preso e deixou de nos importunar.

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