ODILON CUTI – Professor
Amor, um sentimento desordenado! Quem foi que disse que ele precisa de organização? O belo na vida é que não podemos confiar nos nossos instintos e nos instintos dos outros. Em outras palavras, é muito raro sabermos exatamente o que o outro quer.
Daí um dos dilemas humanos, viver em nome do amor, pelo amor, mesmo sabendo que o que se busca, raramente será encontrado. Amor, segundo a mitologia grega, é filho de Penia (Pobreza).
Conforme o mito, Eros não é filho de Afrodite, apesar de nascer sob o signo de sua beleza. Na realidade, é filho de Poros (Recurso) e Penia. No jantar oferecido pelos deuses por ocasião do nascimento de Afrodite, Penia chega para mendigar junto à porta. Poros, embriagado, adormece no jardim. Penia tem a ideia de ter um filho de Poros, deita-se junto dele e concebe o Amor.
Assim, Eros herda dos pais a mistura que o torna inquieto e apaixonado, pobre e rico. Ao mesmo tempo, instável, inventivo, caprichoso. Vivendo na penúria, aspira o saber e a beleza.
Nando reis, cantou: ‘ Que a vida é mesmo/ Coisa muito frágil/Uma bobagem/Uma irrelevância/Diante da eternidade/ Do amor de quem se ama”.
ODILON CUTI – crônica: A vida que se vive, na vida que se vai
E não é que ele tocou num dos pontos mais clássicos do amor: a frugalidade, a fragilidade e a eternidade do amor!?
Somos passantes e nunca aprendemos a amar, a não ser seus espectros. Como lembrou o cantor, o amor entendido dialeticamente não é mortal nem imortal !
O amor é, simplesmente, amor !Não é pobre nem rico, não é ignorante nem sábio. Ele está no meio. Se é que existe meio. Aristóteles chamaria de meio-termo. Excessos e faltas devem ser levados em conta.
Conscientes de carência, o amor e o amante aspiram à beleza e à sabedoria. Por mais que muitos se tornem incautos diante do amor. E mais ainda, da falta dele.
Platão, a partir da imortalidade da alma, justifica a passagem do amor sensível para o inteligível. O que chamamos, no cotidiano, de amor que vem de dentro. Mas, onde é este dentro que o amor se aloja ? Por ora, queremos que este espaço seja eterno. Se amor é filho da falta, bingo ! Buscamos, buscamos e nada encontramos !
Assim, somos convidados a jogar o jogo da incerteza. Vez ou outra chegamos bem pertinho do que chamamos de par perfeito. Mas, é jogo sem fim ! Lamento dizer ! Somos meras interpretações. Mimesis e fantasias.
Nando lacrou! Pois amor é sentir! É convite! É proposta!
Professor é novo articulista do Paralelo 29
Contudo, amor não vem sozinho. Filho de recurso, não desanima. Nem morre depois do fim ! Mas, que fim ? Se ele não tem limites, segundo Roberto Carlos. Pois “Quem ama não esquece quem ama, O amor é assim (…)”
A grandeza do ser amado é encontrar o amor leve ! Que acalma a alma e faz viver sem sentir falta. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Segundo 1 Coríntios 13:4-7.
Sendo assim, o amor de Platão, o de Nando e o de Coríntios se identificam: o primeiro fala de um amor eterno, o segundo de um amor que pede, dá, recebe e nunca está completo. O terceiro, bíblico, fala de um amor sem interesses espúrios. Neste caso, o amor não admite hipóteses.
Precisamos sofrer por amor? Se diz no livro, tá dito ! Precisamos esperar por amor? Não! Suportar a dor do amor é sofrer por acidente!
CUCA VICEDO: E o ano terminou
Não é justo finalizar sem lembrar do mineiro Carlos Drummond de Andrade: “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.”
Ah, Drummond , Drummond ! Amor e prudência não se encontram ! Amantes não medem tempo, espaço, ou outro atributo.
Amantes, amam ! Desejam !
Portanto, amemos ! Mesmo sabendo que o pra sempre sempre tem um ponto final!