BRUNA OSÓRIO PIZARRO – Psicóloga e psicanalista
Estes dias iniciava a leitura do livro “A gente mira no amor e acerta na solidão” da psicanalista Ana Suy. Entre o “Sumário” e o primeiro capítulo, antes da “Apresentação”, um título: “Com licença!”.
Ela inicia o texto, com um trecho da música “Quero começar”/Tiquequê, que diz “Quero começar, mas não sei por onde. Onde será que o começo se esconde?”.
O “Com licença” e as primeiras palavras escritas ao/a leitor/a, por Ana, vieram no mesmo momento em que coloquei data para o primeiro texto no Paralelo 29. Eu pensei, esse será meu início! – Com licença!, a quem me lê e à Ana Suy para tomar para mim este “título”.
Pensando por onde que inicia a “Licença”, eu cheguei em mim mesma. Só posso começar algo que me autorizo, mesmo que, pedindo licença.
Psicóloga Bruna Osório Pizarro estreia no Paralelo 29
O “Com licença” me levou ao caminho da apresentação. Me dedico então, a pensar em algo que parece tão simples e fácil, mas, a mim é uma questão cara: Como eu quero me apresentar?, Quais recortes de mim irei contar?.
Essas são perguntas que já tiveram respostas cheias de certezas e hoje caminham em terra redonda. 11 anos após pegar o canudo de Psicóloga, quase 9 anos depois de pegar o título de Mestra em Psicologia, o título se torna caro, e aqui ele é um tanto do destino que eu dou pra isso tudo. É narrativa em forma de escrita. Que primeiro precisei contar a mim. E aos poucos, vou contando para você.
Saindo um pouco do meu mundo narcísico, penso que as pessoas têm o direito de saber de onde eu falo, com que propriedade – existe propriedade?, qual a minha visão de mundo e qual é meu lugar de fala? Pensando em como iria contar a minha trajetória, as palavras fogem, nomear se torna difícil e as certezas fazem fissuras! Ufa! Respiro!
Que bom poder não saber muito mais sobre mim (ou sobre o que quero contar) e nem saber objetivamente, de forma geral ou específica, ou em tópicos, o que busco aqui, ali ou acolá.
Nesse mundo produtivo e adoecedor, não ter pronto, como uma reprodução (ou seria repetição?), “quem eu sou”, “por onde andei”, “que caminhos trilhei”, parece saudável.
Sigo na missão: Eu gosto de ir contra algumas normas e fazer rupturas saudáveis, mas que desacomodam. E desacomodar não é fácil, mas eu vejo tanto sentido nisso! Que graça teria seguir a vida com tantas certezas?
Sei que escrevo para desacomodar. Vivo me desacomodando. Mesmo quando me permito acomodar. Lembrei de um trecho, ainda desse primeiro momento de Ana com o/a leitor/a: “Escrever é começar a partir de algo que se supõe saber e descobrir coisas novas no meio do caminho.”. Me conte, a gente não supõe que sabe algo da vida e descobre coisas novas no meio do caminho? Eu suponho. E descubro.
Eu não daria conta, de, neste momento, ou neste texto, contar a minha trajetória, até porque ela acontece no momento presente e logo ali eu posso descobrir coisas novas. Mas posso contar que sou utópica o bastante para imaginar que você entendeu algo sobre mim nestas poucas palavras.
Então, eu leio mais um trecho do livro da Ana Suy: “Sempre amamos sozinhos, pois cada um ama a seu próprio modo, cada um ama com sua história, com seu sintoma, com suas perebas psíquicas, com seus perrengues transgeracionais.
No amor a gente sempre comparece com a gente mesmo.” E tomo o amor como a escrita e a leitura. Eu compareço comigo mesma e você comparece com você mesmo/a. Quem sabe assim a gente consiga formar laço e se fazer presente.Com essa atenção, peço licença para que você me leia.
Quatro poemas que sangram, de Edinara Leão
Não só agora. Mas a cada texto que virá. A cada semana. Só assim, você poderá saber de onde eu falo, com que propriedade – existe propriedade?, qual a minha visão de mundo e qual é meu lugar de fala.
Só assim, eu poderei descobrir coisas novas. Só assim iremos nos conhecer. Ou ainda assim, ficaremos apenas com recortes de quem escreve para quem lê. E vice versa? Eu não sei. E parece que não saber onde o começo se esconde não é de todo ruim assim.