Há 35 anos, no dia 15 de agosto de 1987, em uma celebração no Santuário Basílica da Medianeira, às 20h, o Projeto Esperança era apresentado ao público pela primeira vez. A partir da data de nascimento desse projeto, surgiram as iniciativas que transformaram Santa Maria na Capital da Economia Solidária.
Era aniversário da então Diocese de Santa Maria (mais tarde transformada em Arquidiocese) e celebração de bênção de inauguração do Santuário Basílica da Medianeira, houve uma Missa em Ação de Graças e a consagração do Projeto Esperança à Mãe Medianeira, lembra a irmã Lourdes Dill, ex-coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança, que, desde maio deste ano, mora em Barra do Corda, no Estado do Maranhão.
Irmã Lourdes Dill lembra que coube ao então bispo diocesano de Santa Maria, dom Ivo Lorscheiter, apresentar a proposta do projeto social integrado ao Banco da Esperança que tinha “como grande finalidade organizar o povo no campo e na cidade”.
Partilha e solidariedade
A proposta era organizar as pessoas para que elas mesmas fossem donas de sua produção e dividissem “o resultado da pesca pela partilha e solidariedade”.
“Desde o início, o Projeto Esperança fez parte do trabalho social da Diocese de Santa Maria”, recorda Lourdes Dill, que morou em Santa Maria durante 35 anos, período em que ajudou a fundar e a coordenar os eventos de economia solidária, como o Feirão Colonial, que completou 30 anos em abril, e a Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop), que tem 28 anos.
Já em 29 de dezembro de 1989, nascia a Cooesperança, a parte jurídica legal via Cooperativa Mista dos Pequenos Produtores Rurais e Urbanos para possibilitar a comercialização de produtos coloniais e da agricultura familiar, o que não era possível com o CNPJ da Mitra Diocesana e nem do Banco da Esperança.
Inspiração africana
Os debates em torno desses projetos, no entanto, surgiram bem antes, no início dos anos 1980, a partir do livro “A Pobreza Riqueza dos Povos”, de Albert Tevoedjre, cientista político africano, especialista em estratégias de desenvolvimento social e econômico para a África.
A economia solidária parte do princípio da organização dos pequenos produtores e das pessoas excluídas com inspiração em um provérbio africano que diz: Muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da Terra”.
Dom Ivo, um dos mentores do projeto local
Um dos momentos mais simbólicos dessa trajetória está registrado em um vídeo gravado há exatos 24 anos, quando o projeto Esperançam completou 10 anos. Naquela abertura da 4ª Feicoop, o então bispo dom Ivo Lorscheiter deixou uma mensagem que definiu o braço social da Igreja Católica no Coração do Rio Grande do Sul.
“É importante também dizer que o Projeto Esperança/Cooesperança é um projeto altamente evangelizador e transformador, inspirado na vida dos primeiros cristãos, que dividiam os bens e partilhavam os frutos do seu trabalho”, reforça Lourdes Dill. que, em 6 de março de 1987, recebia de dom Ivo a missão de coordenar o Projeto Esperança.
Foi a partir daí que integrantes da Igreja Católica e professores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começaram a organizar a equipe e iniciar o plantio das sementes da economia solidária no Rio Grande do Sul.