JOÃO MARCOS ADEDE Y CASTRO – Promotor de Justiça aposentado, advogado e escritor
Sempre que lemos ou ouvimos uma notícia de um fato muito sério, tipo “mãe é suspeita de matar filho de dois anos a pancadas”, temos uma reação natural de revolta e indignação, e podemos escolher o caminho sensato de esperar pelas investigações ou o caminho mais fácil da “lacração”, que é sinônimo de “arrasar” ou “mandar bem” através de manifestação escrita cheia de certeza embasada em coisa nenhuma.
Os sensatos são chamados de omissos porque não se posicionam condenando a mãe e exigindo que ela seja espancada até a morte e tenha seu corpo incendiado, ou que “apodreça na cadeia”, essa desgraçada, vagab..
Os “lacradores” fazem sucesso porque não se omitem, porque têm coragem! Agora, me perguntem onde estão os “lacradores” quando se comprova, sem sombra de dúvida, que a criança caiu de uma escada, apesar de todos os cuidados da mãe, essa vagab… que nos apressamos a condenar à uma morte cruel, atiramos pedras, cuspimos e a expulsamos da cidade? Bem quietinhos, como se nada tivessem a ver!
Ou talvez os “lacradores”, em nome de sua coragem, venham a público lançar dúvidas sobre a seriedade da investigação “esse delegado foi comprado, o juiz é covarde” e outras assertivas tão idiotas quanto as primeiras acusações sem prova.
O mais incrível é que dias depois aparece outra notícia horrível e ele ataca novamente, porque faz parte de seu DNA doentio falar sobre tudo e ter certeza sobre tudo. Não sabe nada de medicina e fala parecendo um Prêmio Nobel, nunca leu a Constituição e discursa sobre o direito de liberdade de expressão e outras garantias.
Não advogamos a censura, apenas apostamos na capacidade do cidadão de saber reconhecer que nem sempre é sensato manifestar opinião sobre assunto que não domina, que recém começaram as investigações.
Acho que pedir calma e sensatez, respeito ao direito do acusado de ao menos tentar provar sua inocência, não é demais. Não caia na armadilha da “lacração”, pois a possibilidade de você acabar sendo conhecido como o idiota, o bobo da corte, é enorme. É o que penso.