ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
Sou usuário de aplicativos. É mais cômodo e prático para deslocamentos no centro da cidade. Não preciso catar vaga para estacionamento e me obrigo a uma caminhada de retorno. E em ocasiões especiais a cervejinha desce sem culpa.
A espera foi breve, menos de um minuto e o Peugeot branco estava estacionado em frente de casa. Cumprimentei o motorista com o costumeiro ‘buenas tardes’ e a contrapartida foi outro ‘buenas tardes’.
Ué, sais! – pensei cá com os meus botões.
O ‘buenas tardes’ dele era de um castelhano com mais credibilidade do que o meu portunhol de araque. Havia o sotaque que autenticava o cumprimento.
Tem castelhano no Uber em Santa Maria!
Como poderia haver alguma dúvida comecei a conversa com comentários sobre o tempo e a Copa do Mundo. A resposta não deixou dúvidas: era castelhano.
Imaginei do Uruguai, pois não foi muito efusivo com relação a Copa. Um argentino tricampeão não seria tão econômico nas palavras e comedido nas emoções.
Papo vai e papo vem e concluo que o motorista está mais para Tupamaro do que para Montonero. Então, não me contive e perguntei de qual cidade do Uruguai era sua procedência. A resposta foi ainda mais surpreendente.
– Eu vim de Cuba.
A la pucha! O inusitado da origem do ‘ubernista’ me causou espanto e logo em seguida transformado em reflexão: como este cubano veio para Santa Maria?
Estava curioso, mas com receio de indagar. E se ele fosse médico, desertou e estava trabalhando com aplicativos na Boca do Mont? Fica chato.
A melhor opção era ficar na minha. Pra mais de metro de curioso, mas na minha. Só comentei que conhecia Cuba e admirava a cordialidade dos havaneses.
Ele, então, contou suscintamente a sua história.
A mulher era médica e veio para o Brasil pelo programa Mais Médicos, mas não retornou. Ele e o filho levaram mais de dois anos para conseguir deixar a Ilha e vir em definitivo. Trabalhava com aplicativo em Santa Maria e sem arrependimentos. Adorava o Brasil, os brasileiros e os santa-marienses.
A corrida estava acabando e não soube mais detalhes de sua vinda. Gostaria de ter conversado sobre política, mas não deu tempo.
Desejei sucesso e encerrei com o meu costumeiro ‘buenas tardes’. Aí me bateu uma saudadezinha do mojito na Bodeguita del Medio.