Paralelo 29

Comunista do Uber

Foto: Divulgação Uber

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Sou usuário de aplicativos. É mais cômodo e prático para deslocamentos no centro da cidade. Não preciso catar vaga para estacionamento e me obrigo a uma caminhada de retorno. E em ocasiões especiais a cervejinha desce sem culpa.

A espera foi breve, menos de um minuto e o Peugeot branco estava estacionado em frente de casa. Cumprimentei o motorista com o costumeiro ‘buenas tardes’ e a contrapartida foi outro ‘buenas tardes’.

Ué, sais! – pensei cá com os meus botões.

O ‘buenas tardes’ dele era de um castelhano com mais credibilidade do que o meu portunhol de araque. Havia o sotaque que autenticava o cumprimento.

Tem castelhano no Uber em Santa Maria!

Como poderia haver alguma dúvida comecei a conversa com comentários sobre o tempo e a Copa do Mundo. A resposta não deixou dúvidas: era castelhano.

Imaginei do Uruguai, pois não foi muito efusivo com relação a Copa. Um argentino tricampeão não seria tão econômico nas palavras e comedido nas emoções.  

Papo vai e papo vem e concluo que o motorista está mais para Tupamaro do que para Montonero. Então, não me contive e perguntei de qual cidade do Uruguai era sua procedência. A resposta foi ainda mais surpreendente.

– Eu vim de Cuba.

A la pucha! O inusitado da origem do ‘ubernista’ me causou espanto e logo em seguida transformado em reflexão: como este cubano veio para Santa Maria?

Estava curioso, mas com receio de indagar. E se ele fosse médico, desertou e estava trabalhando com aplicativos na Boca do Mont? Fica chato.

A melhor opção era ficar na minha. Pra mais de metro de curioso, mas na minha. Só comentei que conhecia Cuba e admirava a cordialidade dos havaneses.

Ele, então, contou suscintamente a sua história.

A mulher era médica e veio para o Brasil pelo programa Mais Médicos, mas não retornou. Ele e o filho levaram mais de dois anos para conseguir deixar a Ilha e vir em definitivo. Trabalhava com aplicativo em Santa Maria e sem arrependimentos. Adorava o Brasil, os brasileiros e os santa-marienses.

A corrida estava acabando e não soube mais detalhes de sua vinda. Gostaria de ter conversado sobre política, mas não deu tempo.

Desejei sucesso e encerrei com o meu costumeiro ‘buenas tardes’. Aí me bateu uma saudadezinha do mojito na Bodeguita del Medio.

Compartilhe esta postagem

Facebook
WhatsApp
Telegram
Twitter
LinkedIn

Publicidade

Relacionadas

Mais Lidas

Nothing found!

It looks like nothing was found here!