ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
O sábado prometia muito sol e pouca água. Pouca água por conta da barragem do DNOS com seis metros abaixo do nível normal.
Nosso propósito era recolher o lixo que ficou visível com a estiagem e dar uma volta completa no entorno da represa. A olhos vistos, muitos pneus, cadeiras de plástico, cobertores, garrafas pet e todo e qualquer tipo de resíduos. A estiagem tem o poder de escrachar a nossa falta de educação ambiental.
No trajeto, por uma das margens, nós visualizamos um oitão aflorando nas águas, que foi identificado como sendo uma antiga capelinha submersa quando na formação do lago.
Onde, há muito tempo, uma noiva foi abandonada no altar. Ela cometeu suicídio e hoje vaga sobre as águas da barragem em noites de lua cheia. É conhecida como “A mulher de branco”. Uma história triste de amor platônico. Quem seria a noiva?
Mas aí vem um incauto para acabar com o encanto. E afirma que a capelinha, na verdade, era a casa de bombas da Viação Férrea. É a realidade atrapalhando a ficção e o imaginário popular. Eu prefiro acreditar na mulher de branco nas noites de qualquer lua.
No final de nossa longa e cansativa volta da barragem nos deparamos com uma pessoa, na margem, acenando para alguém que se banhava nas turvas águas. Ato contínuo, ela emerge como uma deusa. Exuberante, esbelta e graciosa. E, completamente nua, corre saltitante ao encontro de seu amado.
Passamos “a lo largo” do casal e olhando, disfarçadamente, com o canto dos olhos para não invadir a “privacidade” pública dos indiscretos enamorados. Abraçados e rolando na lama. Medicinal?
Que cena! Alguém aí lembrou da lagoa azul… quase.
Evidentemente, não fiz o registro fotográfico. Me faltou o tino paparazzi.
Na próxima noite de lua cheia estarei remando na barragem e pretendo fotografar “A mulher de branco” no oitão da capelinha.
E a mulher pelada da barragem? Faz de conta que não vi. Aliás, eu não vi.
