Paralelo 29

Cochicho

Foto: Divulgação

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Jose Alves de Moura foi um português radicado no Rio de Janeiro que gostava de distribuir beijos em famosos. Tudo começou com um desafio para beijar o Frank Sinatra no show do Maracanã, lá no começo dos anos 80. Ele foi notícia em todo o país e tomou gosto pela fama.

Passou a se dedicar em beijar personalidades. Apareceu em alguns programas de televisão, dentre eles “Os Trapalhões”. O périplo para beijar celebridades não deixava de ser engraçado.

Hoje, com essas atitudes, o beijoqueiro estaria em maus lençóis e sendo cancelado nas redes. Importunação e assédio seriam seus crimes. Mas ele só queria distribuir beijos? Os tempos mudaram.

A impressão é de que algumas pessoas ainda não compreenderam essas mudanças. Não parece, mas o mundo passou por várias transformações nos últimos vinte anos. Comportamental e política…

O Espaço Pessoal precisa ser compreendido e respeitado. Quando falamos em importunação e que pode evoluir – ou involuir – para assédio, estamos falando em invasão do espaço pessoal.

Espaço pessoal é uma área que transcende ao nosso corpo e que nos pertence e quando invadida pode causar desconforto. Uma espécie de “milhas marítimas” de nosso “território”.

Quando duas pessoas se abraçam elas estão invadindo o espaço pessoal uma da outra. Mas aí há o consentimento. Abraçamos para desejar felicidades, para dar boa viagem, comemoração por uma vitória, um abraço pode significar consolo, solidariedade e apoio. São tantos os motivos para o abraço. Ele só não pode ser dado sem permissão.

E quando uma pessoa se aproxima pelas costas e fala algumas palavras ao seu ouvido? O famoso bafo na nuca! Esta pessoa invadiu o espaço pessoal e sem o consentimento. Ela tem todo o direito de se sentir importunada. Foi o caso entre o deputado Márcio Jerry do PCdoB e a deputada Júlia Zanatta do PL.

O deputado invadiu o espaço da deputada. E não era em um lotação às 19 horas na volta para casa. Era no Congresso Nacional… E isso deveria ser um agravante por se tratar de – em tese – pessoas instruídas e cientes de seu tempo e mudanças.

Para ajudar nas conclusões acerca do episódio, uma pergunta: se fosse um homem o deputado cochicharia no ouvido e pelas costas? Acho pouco provável.

Nesse contexto atual não podemos sair beijando “a lo loco” e nem cochichar no ouvido das pessoas e pelas costas. Não podemos liberar os nossos instintos primitivos, como diria um certo ex-deputado e, atualmente, curtindo um xilindró.

Agora, se uma prenda cochichar em meu ouvido “carreteiro de charque, feijão mexido e Serramalte”. Eu abraço e seja o que Deus quiser.

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