Paralelo 29

Conto: Don Juan Rigoberto – Parte I

Foto: Reprodução

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Aos noventa e três anos, Rigoberto tornara-se um moribundo num quarto de hospital. A morte batia à porta do velho bon-vivant. Mal conseguia balbuciar algumas palavras para a enfermeira que o acompanhava diuturnamente.

Nas últimas semanas o seu estado estava cada vez mais crítico. Apenas o filho – Juanito –, o visitava seguidamente. A nora, os netos e bisnetos eram visitas esporádicas. A enfermeira Mercedes, sua confidente e ouvinte, era a companhia que lhe trazia belas e memoráveis recordações.

Don Juan Rigoberto, quando jovem, era expansivo, eloquente e galanteador. Soube usufruir o que de melhor a vida oferecia para quem tinha uma volumosa conta bancária. Herdara uma fortuna de seus pais e ao longo dos anos sua exclusiva função era dilapidá-la.

Conseguiu viver com extravagância pouco se importando com o preço que pagava. “Dinheiro é para se gastar” era a sua máxima. Mas essas desventuras de Don Juan Rigoberto traziam em seu bojo uma imensa mágoa. Uma tragédia marcada intensamente.

Nas inúmeras viagens que fez não economizava com restaurantes caros, acompanhantes interesseiras e vinhos da melhor qualidade.

Mulheres teve muitas, mas Mercedes aos vinte anos foi a que arrematou seu coração e deu-lhe o filho Juanito e desejo de uma trajetória conjunta. Ela tinha o sorriso fácil e cabelos compridos que encantavam Juan Rigoberto.

Mercedes falecera no parto e Juanito foi criado pelos avós. Don Juan Rigoberto não suportou a perda da companheira e se dedicou à jogatina, festas e torrar a grana que tinha.

Viver fora da realidade era uma válvula de escape. E foi a partir da morte de Mercedes que Don Juan começou sua trajetória de esbanjamento.

Gastava fortunas nos finais de semana. Era um jovem incontrolado para desespero dos pais. Colocava no desperdício toda a saudade que tinha de Mercedes. A grande paixão da juventude.

Também fora um jogador compulsivo.

– Cassinos, mulheres e vinhos, a combinação perfeita que te coloca diante da falência – comentou, certa feita, diante da roleta num cassino em Buenos Aires.

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