Paralelo 29

Laboratório da UFSM é o único do país a fazer tratamento que evita amputações e cicatriza lesões

Silvia (centro), com Carine Comarella, técnica em laboratório (à esquerda), e Talissa Santos, aluna da Veterinária (à direita)/Foto:Ana Alícia Flores, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista da Agência de Notícias

Projeto Alimentando Esperança é vinculado ao Laboratório de Parasitologia Veterinária

Quando o biólogo Alexander Fleming descobriu a penicilina, em 1928, o mundo nunca mais foi o mesmo. O primeiro antibiótico existente se expandiu no combate inédito a infecções, prolongando vidas.

Assim, técnicas naturais – algumas milenares – que estavam em desenvolvimento na medicina caíram em desuso. Com o passar do tempo, na década de 1980, a resistência das bactérias ao remédio tornou-se notável, fato que trouxe a bioterapia, timidamente, de volta à cena clínica.  

A bioterapia é o uso de animais vivos para auxiliar no diagnóstico ou tratamento de doenças. Uma das bioterapias que ganhou força novamente foi a terapia larval (ou Maggot therapy, em inglês), seja para pacientes animais, seja para pacientes humanos.

No Brasil, a enfermeira Julianny Barreto Ferraz é a pioneira na prática em humanos, tendo desenvolvido o tratamento no Hospital Universitário Onofre Lopes, onde atualmente é presidente da comissão de curativos, em Natal, Rio Grande do Norte. No entanto, carece de um laboratório estruturado que forneça as moscas adequadas para o trabalho. 

A prática da bioterapia larval consiste em aplicar larvas de mosca na primeira fase (L1) em feridas e lesões das mais diferentes causas, como fogo ou acidente de carro.

Colônia criada em laboratório da UFSM/Foto: Ana Alícia Flores, acadêmica de Desenho Industrial e bolsista da Agência de Notícias

Aplicadas, elas comem apenas o tecido necrosado e ainda, com sua saliva, estimulam o crescimento de tecido novo, isto é, a cicatrização.

Com a prática, tanto animais quanto seres humanos que estavam condenados à amputação ou presos a tratamentos em decorrência de lesões têm uma nova esperança.

Palavra esta que se repete no projeto “Alimentando Esperança”, vinculado ao Laboratório de Parasitologia Veterinária (Lapavet) da UFSM, cujo objetivo é fornecer larvas para profissionais de saúde aplicarem em pacientes interessados e necessitados. 

Salvar vidas e difundir a prática da bioterapia é o sonho da coordenadora do laboratório, Silvia Gonzalez Monteiro. Silvia é médica veterinária e professora de parasitologia veterinária do Centro de Ciências da Saúde (CCS) na UFSM.

Desde que ingressou na Instituição, em 2002, empenha esforços para estruturar e organizar a prática que sempre admirou. Todavia, deparava-se com limitações, como falhas no ar-condicionado, que é vital para o ambiente de criação, ou quando, em férias, quem ficava responsável não cuidava da colônia, e, não menos importante, apoio de pessoal.

Foi então que, em 2017, a pesquisadora começou mais uma vez uma colônia de moscas e encontrou interesse de alunos em ajudar. O professor Daniel Roulim Stainki, que, assim como Silvia, é do Departamento de Microbiologia e Parasitologia, auxilia com a avaliação dos casos. 

Apesar da pandemia, os estudos não cessaram e, atualmente, o laboratório é o único no país a desenvolver a bioterapia. Solicitando ao laboratório com 48 horas de antecedência e por R$ 25, um profissional de saúde recebe a embalagem com as larvas mantidas em gaze, com a quantidade calculada em relação ao tamanho da ferida (são de 5 a 10 larvas por centímetro quadrado lesionado, personalizado para cada paciente), prontas para a aplicação.

Depois de aplicadas, as larvas precisam ser retiradas do paciente sempre após 48 horas, quando elas já estão saciadas, e na fase de L3, uma antes da fase de pupa.

Case de sucesso: após cirurgia para remoção de um tumor da face que infeccionou, foram utilizadas larvas para controlar a infecção. O tratamento foi feito pela médica veterinária Gabriele Biavaschi /Foto: Arquivo Pessoal)

Assim, a depender da complexidade da lesão, outras aplicações, com novas larvas, são realizadas, repetindo o processo até a cicatrização. Por enquanto, animais do Hospital Veterinário Universitário de Santa Maria (HVU), de clínicas privadas ou de profissionais independentes, são os únicos pacientes. 

Saiba mais sobre o processo de laboratório e confira imagens em https://www.ufsm.br/2023/05/11/laboratorio-da-ufsm-e-o-unico-a-fazer-bioterapia-no-pais-tratamento-que-evita-amputacoes-e-cicatriza-lesoes

(Por Gabrielle Pillon, acadêmica de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias da UFSM)

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