Em entrevista ao Paralelo 29, Luiz Carlos Fort fala da saída do PT, da sua nova opção política, do seu trabalho atual e do seu futuro na política
Vereador do PT por três mandatos, de 2005 a 2016, em Santa Maria, o empresário Luiz Carlos Ávila da Silva, conhecido como Fort, é um dos novos integrantes do Progressistas (PP) e um dos nomes à disposição da sigla nas eleições municipais do ano que vem.
Em entrevista exclusiva ao Paralelo 29, o ex-petista fala sobre sua trajetória política e conta quais os motivos que o levaram a deixar uma sigla de esquerda para ingressar em uma legenda de direita.
A saída ocorreu no final de 2016, quando encerrou seu terceiro mandato pelo PT. Na época, Fort era presidente da Câmara de Santa Maria e recebeu um convite para ser candidato a vice-prefeito na chapa liderada pelo então deputado estadual Valdeci Oliveira. Mas o convite acabou desfeito. Foi a gota d´água para uma relação que já vinha desgastada por conta das posições mais moderadas do então vereador.
Passagem pelo PR e aproximação com o PP
Ao deixar o PT, o ex-vereador teve uma breve passagem pelo PR (Partido da República), que foi rebatizado de PL (Partido Liberal) em 2019. Chegou a concorrer a deputado estadual em 2018, quando obteve 6.228, sendo 4.396 em Santa Maria.
Depois disso, ficou um tempo afastado. A aproximação com o Progressistas surgiu a partir da amizade com o ex-vereador Paulo Airton Denardin, que morreu em janeiro deste ano. Denardin era assessor regional do deputado federal Pedro Westphalen, de Cruz Alta.
Nas eleições do ano passado, Fort apoiou a reeleição de Westphalen e a candidatura a deputado estadual do vereador Admar Pozzobom (PSDB), irmão do prefeito Jorge Pozzobom (PSDB). Com a morte de Denardin, Fort assumiu como assessor regional de Westphalen.
Nada definido sobre 2024
Sobre sua participação nas eleições de 2024, o ex-vereador afirma que não há nada definido. Sua prioridade é concluir o curso de Direito na Faculdade Palotina (Fapas) e se formar ainda este ano.
Além do curso de Direito, ele toca a Fort Bike Shop, uma empresa familiar do ramo de comércio e conserto de bicicletas em que tem como sócia a esposa, Lidiane Prestes da Silva.
O ex-vereador diz não ter mágoas do PT e afirma que entende as críticas como “parte da política”. Segundo ele, a polarização nacional entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “é muito ruim” porque representa extremos da política.
Mórmon e ex-vendedor de pastel
Pai de cinco filhos e avô de dois netos (uma menina e um menino), o ex-vereador é membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida como Igreja dos Mórmons, desde 1995.
Nascido na localidade de Passo da Ferreira, distrito de Boca do Monte, na zona rural de Santa Maria, Fort orgulha-se de ter estudado no Colégio Pão dos Pobres, de ter vendindo pastel na infância, de ter trabalhado no Big (supermercado) e na Cooperativa dos Militares e de “ralar muito” para montar e manter a empresa de bicicletas.
Aos 51 anos, i morador da zona Norte de Santa Maria também é corretor de imóveis e pretende abrir uma imobiliária assim que concluir a faculdade de Direito.
ENTREVISTA: “Não vivo da política e não critico quem muda de opinião”
Paralelo 29 – O que o levou a deixar o PT?
Fort – Fui filiado ao PT por mais de 20 anos e quando tive a oportunidade de ser vice do Valdeci, em 2016, me convidaram e depois me desconvidaram. Mas isso faz parte da política. Fiz campanha normalmente e concluí meu mandato. Fui o vereador mais votado do PT em 2004 e o único reeleito do partido em 2008. E tive mais uma reeleição em 2012, encerrando como presidente em 2016. Sempre tive fidelidade. Depois que concluí meu mandato, fiquei livre para decidir.
Paralelo 29 – No PT, sua ligação maior era com o Paulo Pimenta (deputado federal e atual ministro da Secretaria de Comunicação)?
Fort– Eu iniciei com o Valdeci (deputado estadual e ex-prefeito de Santa Maria). Depois, com a mudança de relações internas, eu sempre apoiei os dois, o Valdeci e o Pimenta.
Paralelo 29 – Mas o senhor nunca teve cargos com o Pimenta?
Fort – Minha mãe trabalhou com o Pimenta, mas se aposentou faz anos.
Paralelo 29 – E a passagem pelo PL?
Fort – Eu me filei ao PR (Partido da República), antes de virar PL. Concorri a deputado estadual em 2018, fiz quase cinco mil votos em Santa Maria, e depois pedi desfiliação. Me afastei para cuidar da minha empresa, a Fort Bike Shop, que trabalha com bicicletas e vai completar 35 anos, 29 deles no Bairro Salgado Filho, na zona Norte. E também para concluir meu curso de Direito. Perdi muito tempo (de estudo) na política.
Paralelo 29 – Como surgiu o convite para ingressar no PP?
Fort – O Paulo Denardin (ex-vereador do PP, que morreu em janeiro deste ano) me convidou para ajudar o Pedrinho (deputado federal Pedro Westphalen) em 2022. Fiz campanha para o Pedro para deputado federal e para o Admar Pozzobom (vereador do PSDB em Santa Maria) para deputado estadual. Aí, o Pedrinho me convidou para entrar no PP.
Paralelo 29 – Como o senhor se definia ideologicamente na época em que era filiado ao PT e como se define, hoje, no PP?
Fort – Sempre tive como bandeiras a saúde, as microempresas, o esporte e a inclusão social e no PT eu tinha esse espaço, dei uma resposta boa nos meus três mandatos. Sempre me defini como um político pacificador, moderador, e o PP também tem essas bandeiras. E o que mais me identifica é a atuação do Pedrinho na área da saúde. Hoje, me defino como um político de centro. Quando eu era do PT, o Valdeci (então prefeito) mandou um projeto de lei para a Câmara criando a taxa de iluminação pública, e eu votei contra por entender que não era uma coisa boa. Não me identifico com nenhum desses polos extremos de direita e esquerda. Isso é muito ruim. E hoje está muito confusa essa questão de esquerda e direita.
Paralelo 29 – O que o senhor diz das críticas de ex-companheiros por ter deixado o PT?
Fort – Eu não vivo da política e não vou criticar quem faz uma opção, assim como não critiquei o Alckmin (Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo) por ter trocado o PSDB pelo PSB para ser vice do Lula. Sou democrata e defendo a liberdade de opinião. Mas faz parte da política.
Paralelo 29 – O senhor pretende concorrer no ano que vem?
Fort – Se a eleição fosse hoje, eu não seria candidato. Minha prioridade é concluir o curso de Direito. Foi o que eu disse hoje no Diretório. Mas o futuro só a Deus pertence.