ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
Precisamos, com urgência, pautar a discussão sobre patrimônio, ocupação dos espaços públicos, estátuas, monumentos e prédios tombados.
O que causou grande reboliço na 50ª Feira do Livro de Santa Maria foi o sumiço do Felippe D’oliveira. O primeiro e maior poeta da cidade não deu as caras na feira. E ele sempre esteve lá, contemplando os passantes da praça Saldanha Marinho. E fazia um bom tempo, o busto foi inaugurado no dia 16 de julho de 1935 cujo orador da celebração foi o Manoelito de Ornellas, me avisa o Moises Menezes.
Não temos mais a herma do poeta na praça. Uma escultura feita por Victor Brecheret – artista modernista – escultor ítalo-brasileiro considerado um dos mais importantes do Brasil. Entre tantas obras, um exemplo de seu trabalho: Monumento às Bandeiras no Parque Ibirapuera em São Paulo.
Então, havia uma obra de Victor Brecheret na praça Saldanha Marinho em Santa Maria. Mas sumiram com o Victor. Não é de hoje que furtam as placas de bronze, os bustos dos monumentos e estátuas e não sabemos ainda, neste caso especifico, como foi o modus operandi. Será que o meliante sabia do valor artístico do Felippe D’Oliveira? Pouco provável.
Santa Maria não tem uma estátua que não tenha sido depredada. No mesmo período da feira sumiram os bustos de Mariano da Rocha e Leopoldo Froes. Mas o impacto se deu por conta do Felippe D’Oliveira, justamente, por ser um Victor Brecheret.
Quando alguém colocou a foto do pedestal nas redes sociais, anunciando o sumiço, eu lembrei da taça Julius Rimet. Guardadas as proporções, o Felippe D’Oliveira é o nosso Julius Rimet. Como a taça, hoje deve estar derretido em uma negociação ilegal. Uma barra de bronze em cima de uma bigorna numa oficina de fundo de quintal. [Não sei se ainda existem bigornas, mas fica como licença poética.]
Se a comunidade de Santa Maria não consegue manter uma obra de arte da envergadura de um Brecheret na praça, é porque a comunidade de Santa Maria não merece ter a obra de Victor Brecheret na praça. Infelizmente. E só temos a lamentar.
Então, continuaremos procurando, mas com aquela sensação de que não vamos encontrar. Adeus, Brecheret!