Entre as declarações polêmicas, o então deputado afirmou que o controle de natalidade, inclusive com uso da força, seria a solução para o Brasil sair da miséria
POR JOSÉ MAURO BATISTA – EDITOR DO SITE PARALELO 29 E REPÓRTER À ÈPOCA
A coluna Paralelas fez um resgate histórico da visita do então deputado federal Jair Bolsonaro a Santa Maria há exatos 30 anos. O parlamentar do Partido Progressista Reformador (atual PP) chegou à cidade na tarde fria de uma sexta-feira, 18 de junho de 1993, conforme o primeiro registro feito pela coluna.
O capitão do Exército que viria presidir o Brasil 26 anos mais tarde passou dois dias na cidade, o suficiente para causar um estardalhaço nos meios políticos por conta de suas declarações.
PARALELAS: A barulhenta e profética visita de Bolsonaro a Santa Maria há exatos 30 anos
O que trouxe o capitão deputado à cidade
A visita foi organizada por militares da reserva, entre eles o capitão Enir Garcia dos Reis (PTB), suplente que estava substituindo outro vereador (Antônio Sineide Costa, do PDT).
Na época, havia uma ativa organização de militares do Exército em Santa Maria, a Asmir (Associação dos Militares da Reserva), presidida por um tenente, Heraclides da Luz.
A ideia foi trazer o deputado eleito pelo Rio de Janeiro para uma palestra e para uma homenagem por ele ter conseguido reverter judicialmente um benefício (pensão até os 21 anos) a favor das filhas de militares que havia sido extinto no governo Collor.
ALGUMAS FRASES DITAS NA ÉPOCA
Declarações de Bolsonaro em entrevista a veículos de comunicação de Santa Maria em junho de 1993:
SOBRE A REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL
“Não vim pregar golpe militar, mas o fim dessa democracia irresponsável”
“Essa democracia não nos serve”
“Só se dá golpe com a falência do Legislativo
“A falência do Legislativo obriga a volta dos militares. As nossas conquistas foram perdidas depois do fim do regime militar”
SOBRE UMA POSSÍVEL ELEIÇÃO DE LULA EM 1994
“Se quiser comunizar, vai levar
SOBRE CONTROLE DE NATALIDADE
“Para acabar com a fome e a miséria é preciso o controle de natalidade. Fazer laqueadura nas jovens senhoras que estão perambulando, gerando mão-de-obra não especializada. A minha esposa ligou as trompas. Eu acho que vocês vão ligar também…a primeira fase é livre, a segunda, lá no norte e nas periferias, tem que pegar as mulheres e fazer. Não tem direito de ter muitos filhos”
“O Nordeste, por exemplo, só possui mão de obra não especializada”
SOBRE ELE MESMO
“Sou treinado para matar”
“Tenho vergonha de ser deputado federal. Não estou preparado. Não tenho uma bagagem cultural para bem representar a população brasileira. Qualquer imbecil pode ser candidato a deputado federal e legislar para você cumprir“
SOBRE A CANDIDATURA A DEPUTADO DO ENTÃO VEREADOR ENIR GARCIA DOS REIS
“Se ele não corresponder, a gente vai lá e enche ele de hamatomas”
Nas entrelinhas, um recado ao colega
Bolsonaro já era polêmico, mas pouco conhecido em nível nacional. A imprensa local, incluindo o colunista, cobriu o evento que lotou a Câmara de Vereadores de Santa Maria.
Uma das frases de efeito que chamou a atenção do repórter saiu em tom de brincadeira. Ao defender a candidatura do aliado Enir para deputado federal no ano seguinte, Bolsonaro disse que os eleitores deveriam ficar atentos para cobrar compromissos.
“Se ele não corresponder, a gente vai lá (na Câmara dos Deputados) e enche ele de hematomas”, bradou o deputado a uma multidão que se concentrava na frente da Câmara, na Vale Machado.
Mesmo que em tom de brincadeira, a frase soou como um recado ao colega, nas entrelinhas, sintetizando a forma como Bolsonaro encara uma eventual traição e como ele vê a “punição” para isso.
Nos próximos textos, a coluna vai trazer bastidores dessa visita e um material inédito da época.