ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
O curso de especialização em “Patologia da Construção” era uma novidade no Centro de Tecnologia da UFSM. E a primeira e única turma ocorreu em 1988. Muita expectativa em relação às novas disciplinas cujas terminologias eram estranhas para alunos egressos da engenharia civil.
Tínhamos aulas às sextas-feiras à noite e aos sábados o dia todo. Durante a semana programávamos visitas às obras e condomínios na cidade. Era uma busca incessante de patologias.
A intenção de incipientes e audaciosos patologistas era fazer o diagnóstico minimamente correto e, logicamente, a prescrição do tratamento.
Os termos patologia, diagnóstico, prescrição e tratamento, aparentemente pouco ou nada têm em comum com engenharia, mas passaram a fazer parte do nosso vocabulário.
Na execução dos projetos de engenharia civil vemos muitas obras doentes, má conservação, com rachaduras, mofos, recalques e um sem fim de patologias à espera de um tratamento adequado.
Os casos mais interessantes e por consequência os mais complexos eram os recalques de fundação. Pois, muitas vezes, a solução dos problemas envolvia uma tecnologia mais avançada, máquinas pesadas e mão de obra mais qualificada.
Havíamos estudado um recalque de fundação num prédio da Universidade do Acre. O mestre tinha exposto a patologia e nós deveríamos chegar a solução numa troca de perguntas e respostas, por escrito, com o professor. O melhor desempenho seria do aluno que solucionasse o problema com o menor número de perguntas respondidas.
No distante ano de 1988, os casos patológicos mais complicados seriam simplesmente colhidos nas bibliografias, se uma pequena reforma para ampliação de algumas salas de aula e construção da biblioteca da Economia, no antigo prédio do CCSH – ou antiga reitoria –, não tivesse sido iniciada.
Cedo, numa manhã de intenso nevoeiro, o engenheiro responsável pela execução da obra, ao visitar o local, preocupa-se com as fissuras que estavam ocorrendo nas paredes e vigas no subsolo.
Imediatamente solicita o escoramento da estrutura e comunica o departamento de Estrutura e Construção Civil da UFSM. A patologia do prédio da ex-reitoria foi um belo estágio prático para os alunos do curso em andamento.
Passado o susto inicial e realizadas as providências com a segurança do edifício, as tardes tornaram-se longas com cálculos, estudos e de execução do reforço estrutural.
Orientados pelos professores do Centro de Tecnologia e acompanhados, atentamente, pelos alunos do curso de Patologia da Construção, foram feitos cálculos e executadas as vigas com as milimétricas contraflechas, pilares e os contraventamentos nos pés das colunas. Um reforço estrutural que proporcionou um vasto aprendizado.
Toda aquela estrutura na antiga biblioteca da Economia é o sustentáculo e o repouso de parte das cargas que compõem o velho edifício.
Ainda hoje, quando cruzo em frente ao prédio me lembro daquela passagem acadêmica. Mas bate uma melancolia, pois o edifício não é mais palco e guardião de discussões acadêmicas e difusão do conhecimento.
Quem sabe, ainda seja ocupado por associações comunitárias, agremiações sem fins lucrativos ou entidades culturais… quem sabe.
Enfim, continua ali na Floriano Peixoto para ser ocupado novamente por alunos e professores. E, por vias das dúvidas, não façamos mais nenhuma reforma no subsolo do antigo prédio da ex-reitoria.