ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
Devo confessar que não me defino como apressado. Nem quando jovem.
Eu sou adepto da máxima: nunca faça hoje o que pode fazer amanhã, porque amanhã pode ser que não seja necessário. No melhor estilo: o andar da carreta acomoda as melancias.
Assim, chegamos nas farpas trocadas entre Lula e Boric em Bruxelas. Em que o “Jovem Apressado” queria mais resultados práticos do encontro de líderes. Neste caso, ao responder a fala do “Idoso Brando” o “Jovem apressado” foi bem-educado e respeitoso.
O fato é que nossas referências políticas estão envelhecendo. Ou melhor, as referências políticas da minha geração estão velhas.
Havia um tempo – há duas ou três décadas atrás – que meu voto na urna era depositado para candidatos mais velhos do que eu. Ultimamente, o meu voto é digitado e dado a candidatos mais novos… alguns bem mais novos. Metaforicamente costumo dizer que antes olhava para cima para dar o voto.
Agora olho para baixo. Claro, isso numa escala de idades. E isso me deixa reflexivo… “la pucha que tempo passou ligeiro”. [Verso do poema “Causo sério” de Silvio Genro].
É aquela história do espaço vazio. Na política não existe, mas vejo com simpatia o rejuvenescimento das câmaras e assembleias. E tem muitos jovens que dão lições às velhas raposas.
Cá entre nós, tem muito velho carcomido com ideias atrasadas dando as tintas nos governos e nos legislativos. Há exceções, evidentemente, para não causar melindres nos mais ferrenhos idólatras.
Somente os jovens podem trazer novas esperanças e novas utopias para esse emaranhado de “diz que me diz que” que virou a política brasileira.
Inclusive no pensamento da esquerda – a esquerda democrática –, há uma grande necessidade de bandeiras contemporâneas para agitar a massa. Falta dialética nas discussões para expor nossas contradições.
Nesta fraternal troca de farpas entre os dois líderes da esquerda Latino-Americana, fico com os jovens apressados, mas quieto aqui no meu canto catando letras no teclado e encordoando palavras.
Alguém aí lembra da música Coração de Estudante? Pois é!