Paralelo 29

ALESSANDRA CAVALHEIRO: Vira-lata, amor de verdade

ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA

Bob nasceu com sangue de Dog Alemão misturado com algum outro que não sabemos. Quando filhote era uma promessa, cachorro de grande porte, orgulho dos tutores, um olhar irresistível, arrasava corações cachorreiros. Neste Dia do Vira-lata é ele que me vem à cabeça. Cada ser tem uma história e eles, (os Sem Raça Definida) são os preferidos para adoção no Brasil atualmente, segundo entidades de proteção.

Aqui em Floripa chamam de bucica, e quando é caramelo, representa aqueles mais descolados do que muita gente, que parecem nem precisar de dono. Hoje mesmo vi um vídeo de uma bucica caramelo cantando no altar de uma igreja, junto com os músicos.

Mas Bob nasceu preto e branco. Pois ele, quando pequeno, foi diagnosticado com cinomose, aquela doença maldita. Era de partir o coração, ele entrava em desespero com tantas dores e não tinha sossego, gemia dia e noite. Na primeira consulta, o diagnóstico. O veterinário encaminhou para eutanásia, para acabar com o sofrimento do animal e da família.

Mas seu tutor não aceitou a ideia da eutanásia. Preferiu acreditar que haveria um jeito e, determinado, foi ouvir outras opiniões entre as clínicas. Até que Bob consultou com uma médica veterinária que tinha uma abordagem holística. Pois ela sugeriu um tratamento com acupuntura e dieta à base de patas de galinha.

Toda a semana Bob era levado às sessões de acupuntura. E os tutores colocavam aquelas patas de galinha (depois de tirar as unhas) no liquidificador e era colágeno para todo o lado na cozinha.

Mesmo com todo o esforço, o sofrimento do animal continuava. Mas seus tutores não desanimaram e, aos poucos, ele foi melhorando.

Bob sobreviveu, mas tem sequelas da doença. Não cresceu muito, ficou com jeito de filhote, porém, muito forte. Depois da cinomose, nada mais abala o doguinho. Seu olhar é um cartão de crédito para conseguir o que quiser. E ele é fujão. Tem amigos na praia, no bairro, visita companheiros de fuga.

Reunião dos AA

Tempos atrás ele sumiu. Três dias, e nada.  Até que a foto dele apareceu num grupo do Facebook. Os tutores, então, ficaram sabendo da história.

Bob, depois de andar bastante pelas ruas, chegou a uma igreja. Ao lado havia a reunião dos Alcoólicos Anônimos. Pois Bob chegou à reunião e foi acolhido pelo grupo. O olhar cativante, claro. Fizeram uma vaquinha e financiaram um dia de beleza para Bob no pet shop (estava cheio de pulgas).

Banho tomado, engravatado, foi levado para a casa de Cláudia, coordenadora do AA, tutora de Babi. Mas a tia não conseguiria manter Bob, por ter pouco espaço em casa. Então, pose para a foto, que foi publicada no Face. Despediu-se de Babi e da tia Cláudia com tristeza.

Pois Bob segue fugindo. Eventualmente, aparece na casa da tia Cláudia (que virou dinda) para brincar com a amiga Babi. A tia logo avisa a tutora pelo WhatsApp e ele é resgatado outra vez.

Ou então, no grupo do Face, onde é habituê, com aquele olhar de coitado e um carisma maior que o de muitos políticos bem votados por aí.

Não, Bob não é vira-lata. É cheio de raça. E de graça. Hoje é o dia dele e de todos os nossos queridos cães SRD que sobrevivem, apesar dos abandonos e desafios.

Hora de lembrar a importância de adotar e, mais do que isso, cuidar e amar esses peludos, que todos os dias nos ensinam o que é amor verdadeiro e incondicional.

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