Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: O amigo da onça

 Foto: Ascom/MF

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Se alguém quiser me presentear com uma onça de ouro, aviso que aceito. Com muita discrição para evitar chamariz. Afinal de contas, a bandidagem anda solta.

Aliás, pode ser uma pequena escultura em bronze do busto de um poeta, por exemplo. Uma medalhinha missioneira. Um broche farroupilha. Aceito qualquer regalo. E não tenho impedimentos para recusar. Claro, uma onça de ouro é para poucos. Outro nível. E não tenho amigos com essa grana toda.

Bueno, o Haddad tomou a decisão correta ao recusar o presente do ministro de Investimentos da Arábia Saudita, Khalid Al Falih. A prosa deve ter sido proveitosa e cordial e o Falih quis dar o presente para o ministro brasileiro: uma peça que representava a cultura e a riqueza de seu país.

Imagino que o Al Falih quis dar o felino de presente por ser um amigo da onça. Um sincero amigo da onça. Obviamente, Haddad ficou surpreso e agradecido pelo gesto.

Até imagino que deve ter rolado um certo constrangimento. Ainda está latente o causo do “inelegível” que tentou burlar os trâmites protocolares por conta de outro presente das arábias. Então, o brilho dos olhos não pode ficar ofuscado pelo brilho da onça em metal nobre.

Haddad resolveu consultar o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, que colocou algumas barreirinhas legais e orientou a devolução da onça dourada.

A onça, para entrar no Brasil, precisa seguir alguns protocolos. Coisa necessária para evitar os amigos da onça, neste caso, o criado pelo cartunista Péricles Maranhão e que andou pela revista O Cruzeiro e já faz um bom tempinho.

A onça de ouro do árabe voltou – com o rabo entre as pernas – para a embaixada da Arábia Saudita. Pode ser que ela volte, pelas vias legais e sem comprometer a idoneidade dos agentes públicos. E ficar exposta ali no Palácio do Planalto. Quem sabe?

Particularmente, acho que nunca vou receber um presente de tamanho valor. Estou muito distante de uma onça de ouro e quero distância dos amigos da onça e das onças de carne e osso.

Nem consigo imaginar uma onça de ouro. Mas uma medalhinha da Cruz de Caravaca está bem próxima e pode até ser folheada a ouro. Eu disse folheada a ouro, coisa sem valor.  Ah! Um busto em bronze do poeta, pode ser o do Felippe D´Oliveira… aí é outra história.

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