Líder Binho do Quilombo foi assassinado em 2017, também na Bahia
Douglas Corrêa – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
A diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Bahia, delegada Andrea Ribeiro, disse em entrevista nesta sexta-feira (18), que todas as medidas iniciais já foram adotadas no sentido de identificar e prender o mais rápido possível os autores do assassinato da liderança quilombola Maria Bernadete Pacífico, de 72 anos, no Quilombo Pitanga dos Palmares, no município Simões Filho, na Bahia.
A equipe não descarta uma relação deste crime com o homicídio do filho da vítima, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, há seis anos.
“Temos que estudar essa investigação pretérita relacionada a morte do filho da vítima. Isso será de suma importância e é lógico que isso será feito pelas equipes que trabalham na investigação”.
De acordo com Andrea Ribeiro, a polícia procura imagens que possam ajudar nas investigações. “Nossas equipes estão em busca dessas imagens, desse possível trajeto que foi feito pelos executores do crime”. Mãe Bernadete estava em casa na noite desta quinta-feira (17), quando dois homens usando capacete entraram no Quilombo Pitanga dos Palmares e assassinaram a líder quilombola com vários tiros.
A policial explicou que algumas linhas de investigação estão sendo trabalhadas inicialmente, mas ainda é tudo muito preliminar.
“Nós ainda não temos condições de dizer quais são. Se existe uma linha determinada a seguir. Tanto assim que nós teremos a contribuição do Departamento de Narcóticos, da Coordenação de Conflitos Agrários, o Departamento de Polícia Metropolitana, para que todas as hipóteses que possam nos levar a motivação do crime sejam trazidas e descartadas a medida que a gente for avançando no esclarecimento do crime”.
Equipes de investigação de campo e de inteligência estão trabalhando em conjunto para chegar aos autores do crime. A Polícia Federal também entrou na investigação.
Homenagem
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), fez uma homenagem nas redes sociais, a ialorixá. “Querida Mãe Bernadete que Deus a receba de braços abertos, como a senhora sempre recebeu seus filhos. E por aqui, saiba que há um amigo que não descansará enquanto quem cometeu esse ato bárbaro seja punido”.
Rodrigues disse ainda que falou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT_ sobre as investigações e o apoio aos familiares de Maria Bernadete. “
O presidente prestou solidariedade e disponibilizou todo o apoio do governo federal. Estamos alinhados e trabalhando em conjunto para a rápida elucidação do caso”.
A líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Yalorixá e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho (BA), Maria Bernadete Pacífico, foi assassinada na noite desta quinta-feira (17).
Criminosos teriam invadido a comunidade, feito familiares reféns e executado a Mãe Bernadete a tiros. Ela é mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, assassinado há quase seis anos, no dia 19 de setembro de 2017.
Para Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Bernadete foi assassinada pelo mesmo grupo responsável pela execução de Binho. “Ela sabia e a Justiça sabia que quem mandou matar Binho tava lá, perto da comunidade. Só que não deu nada. Ela nunca ficou quieta. Agora foi silenciada. Muito triste para nós”, lamentou Denildo.
De acordo com ele, as lideranças das comunidades quilombolas e terreiros de Simões Filho são ameaçadas permanentemente por grupos ligados à especulação imobiliária, interessados em ocupar os territórios. O município fica na região metropolitana de Salvador. A capital da Bahia foi identificada pelo Censo Quilombola do IBGE como a capital com a maior população quilombola do país. São quase 16 mil quilombolas e cinco quilombos oficialmente registrados.