ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA
Paz é um tema que sempre foi alvo do meu interesse. Já contemplei este assunto de diversos ângulos, é atraente, desafiador, nesse mundo diverso e muitas vezes, surpreendente.
Desde muito cedo busquei referências sobre o tema. A pomba branca é icônica, símbolo universal da paz e do amor realizado, elevado e puro. Um casal de pombos é, por natureza, fiel e afetuoso, até o fim. Na adolescência eu tinha sede e grande energia para explorar o tema.
Minhas primeiras referências mais marcantes, além dos pombos, vieram da história da Índia. Mohandas Karamchand, o libriano Gandhi, em sua frase definitiva, afirma: “Quando me desespero, eu me lembro que durante toda a história, o caminho da verdade e do amor sempre ganhou. Têm existido tiranos e assassinos, e por um tempo, eles parecem invencíveis, mas no final, eles sempre caem”, dizia o líder pacifista. Então o tema da paz dá uma sensação de conforto, de que, afinal, há uma saída.
Mas o ser humano, historicamente, encontrou no caminho da guerra as soluções para a paz. Paradoxalmente, têm sido necessárias muitas mortes e destruição até que países possam levantar-se das cinzas, a exemplo de Japão e Alemanha, na 2ª Guerra.
Então, o tal acordo de paz é selado e celebrado e se comemora o fim das guerras como se não houvesse todo o sangue e as cicatrizes incuráveis, dores de corpo e de alma, intratáveis… Mas enfim, chega a paz. E eu acho que o Gandhi pensava nisso quando se desesperava.
Olhando o tema ao longo dos anos, percebo que uma coisa é lutar contra a violência… Outra é promover a paz. O simples fato de se pensar ou citar a violência já é algo violento, numa forma mais sutil.
E lutar contra seja lá o que for, definitivamente, não pacifica. Então, o furo é mais embaixo. Talvez por isso haja movimentos estéreis, que na “luta”, acabam gerando mais contendas e obstáculos no caminho.
Vestir-se de branco, acender velas e desfilar com cartazes pelas ruas é algo que precisa ser feito sem ódio, sem revolta. Do contrário, é apenas um cenário vazio e incoerente de pacificação. Sem essência e alma pacificadoras.
E temos em nossos dias, tanta violência velada por trás de sorrisos, insinuações, comentários fúteis, impensados, trocas de farpas. Violência vestida em roupas íntimas, peças gráficas, assédios… Desenvolver força, coragem e paz interior demanda tempo.
A raiva é 100% inútil, emoção unicamente destrutiva. Outras emoções negativas ainda podem ter alguma utilidade, como o medo. O antídoto é a pacificação interior, parar um pouco, acalmar níveis profundos de nosso ser. É uma construção eterna.
Então, o caminho é interno. O que manifestamos será o resultado deste caminho, das procuras. E mais uma vez, somos cebolas: vamos descascando as camadas em busca de nada que seja visível, mas de uma ação no mundo mais coerente, lúcida e enfim, pacífica.
O desafio é simplesmente aquele exercício interno da consideração com o outro ser, da observação de meus pensamentos, sentimentos e atos. É o desafio de afinar as cordas do coração antes de tocar para o mundo, como ensinou o Buda, na lição do Caminho do Meio. Caminhemos.