Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: Um gaúcho na livraria

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Grande coisa um gaúcho numa livraria!

Mas não é qualquer gaúcho. Podemos escolher um gaúcho do sul – ali das bandas de Pelotas –, ou do pampa – lá pros lados de Bagé –, ou missioneiro – lá da Bossoroca –, e deverá estar, impecavelmente, pilchado. Assim, teremos um autêntico gaúcho.

A livraria, necessariamente, localizada em Porto Alegre.

Então, temos o conflito de um taura na livraria.

O guasca estava passeando – como quem não quer nada e, realmente, não queria nada – e se depara com a vitrine colorida e repleta de livros. Não teve dúvidas, entrou batendo espora no recinto.

Prontamente, saltou o sorridente atendente para abordá-lo sobre suas necessidades literárias.

O guasca solicitou o Martin Fierro traduzido pelo Colmar Duarte. O sorridente atendente apontou para uma estante e passou o indicador pelas lombadas dos livros e concluiu que não havia nenhum exemplar.

O nosso herói então solicita Don Segundo Sombra de Ricardo Güiraldes. Em espanhol. Nem foi preciso passar o indicador pelas lombadas, não havia Güiraldes na casa.

O Guasca solicita o Facundo de Domingo Faustino Sarmiento. Sem chance, o sorridente atendente nem conhecia Sarmiento.

Diante da terceira negativa, o “Indio Veio” confessou sua verdadeira intenção ao entrar na livraria. Queria saber sobre a possibilidade de deixar livros em consignação.

O sorridente atendente encaminhou ao responsável pelo setor comercial, o senhor Tristão que, alegremente, comunicou que havia regras para deixar livros em consignação.

A palavra “regras” deixou nosso guasca pensativo e apreensivo.

O alegre Tristão alcançou uma folha com as regras e adiantou que deveria enviar, via e-mail, os arquivos dos livros para serem analisados e aprovados, ou não, para serem comercializados pela livraria.

– A la pucha! – saiu sem querer.

O guasca achou muito estranho: aprovação para ver se podia ser vendido. Coisas do Portinho…

Para quem trazia a mochila com exemplares dos livros para consignação, o gaúcho do pampa ou das missões ou do sul do estado, agradeceu a atenção e saiu da livraria. Tomando todo o cuidado para não bater, fortemente, a porta e quebrar algum vidro.

As regras?

Nem leu, rasgou e colocou na primeira lixeira que encontrou.

O retorno estava previsto para as 18h para o sul… para o pampa… para as Missões.

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