Paralelo 29

RODRIGO DIAS: Aborto legalizado e criminalizado, uma questão de saúde pública

Foto: EBC, Arquivo

RODRIGO DIAS – ADVOGADO E ESPECIALISTA EM GESTÃO PÚBLICA

Em Santa Maria, um tema de grande destaque tem dominado as conversas na esfera pública: os projetos de lei PL 9647/2023 e PL 9648/2023 têm gerado intensos debates.

O primeiro propõe que mulheres grávidas que tenham sido vítimas de abuso sexual escutem os batimentos cardíacos do feto antes de tomar a decisão de interromper a gestação.

Já o segundo prevê a obrigatoriedade da exibição de cartazes informativos sobre o aborto em unidades hospitalares de Santa Maria que realizem o procedimento, bem como em consultórios médicos onde gestantes recebam atendimento.

Esses projetos de lei estão no centro de uma discussão crucial sobre o futuro da prática do aborto na rede pública de saúde da cidade.

O tema do aborto sempre foi controverso, dividindo opiniões ao longo dos séculos, porém, atualmente, os legisladores locais estão profundamente engajados em analisar as implicações dessa questão para a saúde pública, a ética e as convicções religiosas.

No Brasil, a interrupção voluntária da gravidez é considerada crime, com penas que variam de um a três anos de prisão para as mulheres que a praticam e de um a quatro anos de prisão para os médicos que a realizam. Entretanto, o país também prevê exceções à regra em situações como gravidez decorrente de estupro, risco à vida da mulher e anencefalia fetal.

Neste cenário, os projetos de lei em discussão em Santa Maria, RS, ganham ainda mais relevância, já que podem influenciar diretamente a vida das mulheres e a política de saúde pública da cidade.

Vamos explorar as implicações, benefícios e riscos da legalização e criminalização do aborto, bem como as questões éticas e religiosas que permeiam esse tema complexo.

A legalização do aborto proporciona diversos benefícios à saúde pública, incluindo:

  1. Redução do risco de complicações e mortes maternas: O aborto realizado de maneira segura e supervisionado por profissionais de saúde reduz consideravelmente a ocorrência de complicações graves, como infecções, hemorragias e óbitos.
  1. Diminuição dos abortos clandestinos: A legalização reduz o estigma associado ao aborto, encorajando as mulheres a buscar ajuda profissional quando se encontram em situações de pressão para abortar.
  1. Melhoria do acesso a informações e serviços de saúde: A legalização pode fornecer às mulheres informações adequadas e maior acesso aos serviços de saúde, auxiliando-as na tomada de decisões informadas sobre a gravidez.

A criminalização do aborto acarreta diversos riscos para a saúde pública, incluindo:

  1. Aumento do risco de complicações e mortes maternas: Abortos clandestinos são mais propensos a causar complicações graves, como infecções, hemorragias e óbitos maternos.
  1. Crescimento dos abortos clandestinos: A proibição força as mulheres a recorrerem a serviços clandestinos, aumentando o risco de complicações e mortes maternas.
  1. Prejuízo à saúde mental das mulheres: O estigma e a culpa associados ao aborto criminalizado podem causar estresse, ansiedade e depressão nas mulheres envolvidas.

O aborto é uma questão complexa que envolve considerações éticas e religiosas, não havendo uma resposta definitiva, pois existem argumentos sólidos tanto a favor quanto contra a legalização.

Do ponto de vista ético, o aborto representa um dilema entre os direitos da mulher sobre seu próprio corpo e o direito à vida do feto.

Defensores da legalização argumentam que as mulheres têm o direito de tomar decisões sobre seus corpos, incluindo a interrupção da gravidez, independentemente das razões que as levam a essa escolha.

Defensores da criminalização alegam que o feto tem direito à vida desde a concepção e veem o aborto como um ato de homicídio, privando o feto do seu direito à vida.

A religião desempenha um papel significativo no debate sobre o aborto, sendo que muitas religiões consideram o aborto um pecado, acreditando que o feto é uma pessoa desde a concepção.

Religiões que se opõem ao aborto geralmente apoiam a criminalização do procedimento, argumentando que o Estado deve proteger a vida humana, incluindo a do feto.

Religiões que apoiam o aborto geralmente defendem sua legalização, afirmando que a decisão deve ser da mulher, independentemente das crenças religiosas.

A questão da legalização ou criminalização do aborto é complexa, envolvendo aspectos morais, religiosos, legais e de saúde pública.

Não há uma resposta única e definitiva para essa questão, e o destino desses projetos de lei em Santa Maria, terá um impacto forte na comunidade local. Cada perspectiva deve ser cuidadosamente considerada à luz das circunstâncias e valores individuais.

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