ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA
Diante do estrago feito no RS devido à chuva volumosa nos vales, que levou adiante tudo o que temos visto nas coberturas, e diante da realidade cruel do fenômeno El Niño, agravado pela fervura do planeta, o assunto não poderia passar em branco aqui. Preciso dar meus gritos.
Um tempo atrás participei de um curso para jornalistas do Sul do Brasil com cientistas do clima e devo confessar que um medo avassalador tomou conta de mim. Venho buscando formas de lidar com isso, enfim. Depois do curso fiquei meio paralisada quanto à causa.
Entre os aprendizados importantes está a necessidade urgente de mudar a forma de agir diante da realidade climática e aprender o que alguns especialistas estão chamando de alfabetização climática. Precisamos de instruções de sobrevivência. Ou você acha que agora as tragédias vão parar de acontecer?
A busca de entendimento sobre a nova realidade climática tem me levado a descobrir, por exemplo, que na área de saúde há psicólogos do clima.
Super necessário, porque o pânico é geral. Na educação, estou em busca de informações sobre alfabetização climática, ou seja, por exemplo, será que os professores têm recebido treinamento sobre prevenção ou sobrevivência para ensinar nas escolas?
CÁ ENTRE NÓS: Águas e a dignidade humana
Salve-se quem puder?
Se eu estiver em casa e for avisada que vai ocorrer um fenômeno perigoso, eu saberei o que fazer para preservar minha vida e de minha família? Nem falo da questão material. O que se faz a respeito? Professores ensinam nas escolas? Ficam muitas perguntas no ar.
Se colocarmos a lupa neste assunto, vamos perguntar: como se sabe se a tragédia (anunciada, e como!), poderia ter sido evitada ou era apenas mais um dos episódios naturais.
Qual é a dificuldade de entender, e pior, de acreditar no que dizem os cientistas? Aliás, é de chorar a estupidez dos políticos que não têm a ciência como aliada para as ações.
O beabá da coisa é o seguinte: os eventos climáticos são os mesmos, só que do jeito que o planeta está hoje, e sim, devido à ação do homem (piorou muito no pós-guerra e com a Revolução Industrial), esses eventos ficarão mais intensos e ocorrerão mais vezes.
Será que com essa terrível tragédia, que ainda ameaça os gaúchos e a região Sul, vamos aprender ou começar a acreditar? Vamos aprender as lições?
CÁ ENTRE NÓS: Lala, a fúria; Mimosa, a iluminada
Quais as causas da mudança climática?
No jornalismo há a previsão do tempo e depois, se descreve a tragédia e suas consequências. É preciso buscar a raiz do problema, ou seja: por que as tragédias estão maiores e mais frequentes?
Até que ponto é possível prevenir? Aí entra todo o trabalho de mitigação, que também precisamos aprender, precisamos receber instruções para defender a vida.
Infelizmente, os alertas da ciência que ocorrem desde décadas atrás têm sido ignorados em boa parte. Assim, resta encarar a realidade: neste momento de ebulição planetária, da fúria dos elementos, já não há tanto a fazer, como havia antes. É tentar mitigar, compreender e tentar sobreviver trabalhando pelo avanço de uma cultura de prevenção.
CÁ ENTRE NÓS: Paz, estrada interna e eterna
Os bons e os maus
E por último, sobre a tragédia das águas, foi muito duro assistir ao turismo da desgraça alheia, gente passeando e atrapalhando o socorro e aos oportunistas de plantão dando golpes nas vítimas.
Por outro lado, é muito bonito ver como brota a solidariedade entre as pessoas nessas situações. Quando a vida chega ao limite, parece que lembramos que somos todos humanos. E que todos temos necessidades muito parecidas.
Infelizmente, fica difícil ser otimista, ainda mais quando há tanto negacionismo, falta de conhecimento e narrativas ideológicas que atrapalham muito a situação. Que Deus nos ajude, e salve-se quem puder!