ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
Os tauras Antônio e Nicolau se encontraram na praça dos Três Poderes em Brasília. Eles programaram a visita a um antigo amigo gaúcho que trabalhava no Supremo Tribunal Federal.
E chegaram pilchados em frente ao STF. Só não entraram de esporas porque não passaram nos detectores de metal. Dois gaúchos lá do fundo da grota.
A diferença entre eles era a cor do lenço e a estampa. Antônio era chimango raiz e mirradinho por isso tinha o apelido de Pequeno Príncipe. Nicolau, maragato pra mais de metro e grandalhão e era, apenas, Príncipe. E o encontro foi bem em frente ao STF.
E o Barão, o conterrâneo, era porteiro do tribunal – um grosso de São Luiz Gonzaga – que era metido a leitor e gostava da literatura guasca, lógico. Para matar as saudades da querência, já aguardava os antigos companheiros sulistas. Ansioso para receber os livros prometidos no grupo de zapzap.
Eles eram amigos de infância. Os três jogaram no infantil do GEPO [Grêmio Esportivo Pedro Osório] e formaram o ataque mais cruel de sua época. Pequeno Príncipe, Barão e Príncipe na ponta-esquerda. Os apelidos dos ponteiros do GEPO era uma reverência ao “Príncipe Jajá” ponta-direita do colorado.
– Olha só quem está aqui pelo planalto central… o Pequeno Príncipe e o Príncipe, lá dos Pampas gaúchos – falou para todo o hall do STF ouvir.
Alguém ordenou que calassem a boca pois os ministros estavam reunidos e aquela algazarra poderia atrapalhar a reunião.
Mas os três gaudérios do Rio Grande de São Pedro não estavam nem aí para a bronca do chefete imediato do Barão. E continuavam falando e gargalhando alto no hall do prédio do planalto central. E o Barão apresentou para os colegas os amigos recém-chegados.
– Estes dois são meus amigos do sul, o Príncipe e o Pequeno Príncipe –, e foi apresentando a todos os colegas terceirizados do STF.
Aí o Barão teve a grande ideia de levar os dois tauras para assistir a reunião dos ministros. Eles sentaram comodamente nas poltronas. E ficaram admirando toda aquela pompa que era o tribunal.
– Por que eles usam aquele poncho preto no ombro? – a pergunta de Nicolau ficou sem resposta.
– E aqui não tem chimango e nem maragato? – a pergunta de Antônio também ficou sem resposta.
Mas em certo momento o advogado falou em Pequeno Príncipe e o Antônio saltou da poltrona.
– Esse sou eu! – e foi um burburinho na sessão.
– Silêncio no tribunal! – alguém falou em alto e bom som.
Não demorou cinco minutos e o ministro falou em Príncipe.
– Agora sou eu! – gritou Nicolau. E foi outro burburinho na sessão.
– Silêncio no tribunal! – alguém falou em alto e bom som.
O ministro estava fazendo o contraponto ao advogado e estava achincalhando com os argumentos que eles – os tauras – não entendiam bulhufas. Mas perceberam que a coisa não estava pra sopa. E o caldo estava entornando.
– Vamos cair fora antes que sobre pra nós, o careca está muito brabo.
E se retiraram o mais silencioso possível. Antes de saírem das dependências do tribunal entregaram os livros que levaram para dar de presente ao amigo Barão.
Antônio – o Pequeno Príncipe – presenteou o velho Barão com Antônio Chimango de Amaro Juvenal.
Nicolau – o Príncipe – o presenteou com um antigo exemplar do Analista de Bagé.
No final do expediente o Barão estava folheando um dos livros com que fora agraciado, meio desatento com a portaria, e o livro chamou atenção do Xandão.
– Que livro é esse? – perguntou ao porteiro, assim, de pronto.
Barão ficou meio assustado com a pergunta do ministro com cara de brabo e respondeu de forma simples e contundente.
– Antônio Chimango de Amaro Juvenal, presente do Pequeno Príncipe.
– Engraçadinho… – falou o Xandão. Sorriu amarelo e saiu com cara de poucos amigos.