Paralelo 29

PUJOL: O Brics, o Brasil e os políticos brasileiros

VI Cúpula do Brics é realizada com segurança máxima em Fortaleza (CE). Foto:Marcelo Camargo/Agência Brasil

JULIO PUJOL – Professor, diretor do Instituto Alta Política e consultor político

O mundo está mudando. E essa mudança está acontecendo frente aos nossos olhos, no nosso tempo, nos nossos dias. Como Porto Alegre pensa o Rio Grande, Brasília pensa o Brasil, existem mecanismos de governança e fóruns que pensam o mundo. E decidem seus rumos.

Até então, pode-se dizer que, tangenciando a ONU, estavam o G7 e, talvez, o G20. Mas se efetivo poder tivesse o G20, desnecessário seria o G7. Então talvez, de modo efetivo, quem ditava os caminhos da economia mundial, era o G7 (Alemanha, Inglaterra, EUA, França, Itália, Japão e Canadá).

O G7 impunha regras e comportamentos; aplicava sanções e punições; definia parâmetros do que era democracia, liberdade de mercado, direitos humanos, liberdade de imprensa, sistema de governo, meio ambiente, desenvolvimento social e etc.

Os países que não se enquadrassem sofreriam as sanções e os embargos. Ninguém poderia quebrar as regras. Menos, claro, eles próprios, seus aliados e seus interesses. Foi tudo isso que começou a mudar na semana passada, na última Cúpula dos BRICS.

Os BRICS se tornaram, de certa forma, mais fortes e mais ricos do que o G7. E começam a não mais se sujeitar as suas decisões e parâmetros.

O bloco está criando seus próprios fóruns de debates e fóruns temáticos, seus espaços e mecanismos de decisão, suas regras de funcionamento, suas pautas e suas resoluções, que não são mais meras pautas de reivindicações, e sim decisões sobre os rumos que entendem que o planeta deva seguir.

E isso não é pouca coisa, pois o bloco tem, hoje, os mecanismos para torna-los efetivos, sendo um dos principais, o Banco dos BRICS.

E O BRASIL

Nesta nova configuração o Brasil é um protagonista. No G7 é, e seria sempre, um convidado do andar de baixo. Mas como temos uma diplomacia aberta, não alinhada, e voltada à paz e a cooperação, desde Rio Branco e Rui Barbosa, mesmo sendo protagonista nos BRICS, o Brasil tem um espaço de interlocução privilegiado com o chamado “Ocidente”.

Como uma grande democracia, e como principal liderança na América Latina, o Brasil é um ator chave no continente. Europa e Estados Unidos não podem prescindir do Brasil.

Deste modo temos oportunidade de ganhar “dos dois lados”. Ampliar nossa influência como um protagonista e interlocutor do Sul Global, e ao mesmo tempo sermos um país aberto ao diálogo com o chamado Ocidente.

Importante que a inteligência política brasileira, mesmo no âmbito municipal, compreenda o momento geopolítico internacional que estamos vivendo.

Isso é necessário para iluminar as decisões locais e nacionais, porque não somos uma ilha. E o político é condutor natural dos destinos de uma nação. Nossa economia hoje está internacionalizada. O que acontece no mundo nos interessa diretamente.

No caso específico dos BRICS ampliado, se bem conduzido, existe uma grande oportunidade no âmbito econômico, comercial, cultural e político, com enorme repercussão nos próximos anos.

Por muitos anos, os países do BRICS e seus próximos, foram considerados Terceiro Mundo, depois, Emergentes, agora estão sendo chamado de Sul Global, ou seja, é um reconhecimento de uma articulação política bem-sucedida, mais que uma simples contingência geográfica.

A diversidade interna no bloco, significa um grande desafio (por exemplo, temos adversários históricos como Arábia Saudita e Irã), mas ao mesmo tempo significa além de uma saudável novidade, uma grande oportunidade.

O “Sul Global” passa a ter voz, e assento privilegiado nos grandes fóruns mundiais, e nas grandes decisões sobre o futuro do planeta. E o Brasil é ator protagonista neste cenário.

O BRICS, hoje, passa a contar com sete países no G20, inclusive com o Brasil assumindo a presidência para o próximo período.

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