ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
Éramos três tauras devidamente pilchados rumo a um rodeio crioulo na serra. No Lisaruth fizemos a paradinha básica para um cappuccino e esticar as pernas. Pois ainda havia muitos quilômetros a vencer.
E a chuva guasqueada batia sem trégua. Íamos batendo água. Nosso objetivo era o 22º Rodeio Crioulo de Nova Bassano, onde comporíamos o júri no concurso de arte declamatória e cantoria. Seria um domingo intenso de avaliação de concorrentes do pré-mirim ao adulto.
La pelas tantas – não sei porque cargas d’água – um dos acompanhantes resolveu comentar sobre sushi. Sushi e rodeio crioulo… tudo a ver, pensei.
– Será que tem sushi em Nova Bassano? Talvez em Nova Prata que é ali do lado – comentou o carona.
E o assunto enveredou para a culinária oriental. E começaram a demostrar conhecimento na comida japonesa. Falaram em Kushiage, Tonkatsu, Oyakodon, Yakimono – falei que vesti esse troço aí quando lutei karatê lá na USE. – Kimono – corrigiu o entendido.
E encerraram comentando sobre Kushiyaki. Mas o preferido seria o sushi em Nova Prata. Aqueles dois bombachudos entendiam de comida japonesa. Mas pra mim, aquela conversa toda era em grego.
Ficou evidente que meus companheiros gaúchos dos oito costados, na banca de avaliação de prendas e peões e guascas de toda a espécie estavam convictos que nossa janta seria sushi em Nova Prata.
Então, chegou a minha vez de falar…
Eu comprei um par de botas novas para ir a Nova Bassano e não pretendo comer sushi em Nova Prata e no domingo vou envergar meu orgulhoso lenço maragato, faca e chilenas de prata – herança de meu avô e de meu pai. Era só o que me faltava, três grossos do pampa jantando sushi num rodeio crioulo.
Isso é uma heresia. Honório Lemes vai dar voltas na tumba. E o Adão Latorre, então? Nós não somos jurados para escolher a mais bela gueixa. Puxei os tauras na cincha.
Resumo da história: costela gorda e picanha em Nova Prata. E de sobremesa um pires de arroz de leite com canela. E ambrosia a gosto.