Paralelo 29

CÁ ENTRE NÓS: A Terra febril

Foto: Fernando Frazão, Agência Brasil

ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA

Não é fácil encarar a realidade do aumento da temperatura. Santa Maria sempre teve um clima que é para os fortes, vivi os invernos abaixo de zero e os verões acima de 40º.

É um povo com resiliência, portanto. Mas sim, é preciso encarar com o mínimo de pânico possível os extremos que certamente virão, mais intensos e mais frequentes.

Na semana em que o mundo discutiu com grande ênfase as questões do clima na ONU, em Nova Iorque, o Brasil viu alertas de calor extremo em vários estados.

Hoje, o Rio Grande do Sul recebe as temperaturas mais baixas que vêm do Polo Sul e a chuva, ao invés do calor mais forte. Mas a região Sul não está separada do planeta. Aliás, todos os estados precisarão de muito apoio uns dos outros, acredite.

Não acho aconselháveis as ideias de separatismo, de independência do resto da nação, já que estamos altamente vulneráveis e necessitados de todo o tipo de ajuda. Vide as dramáticas enchentes que ainda castigam seriamente o estado.

Não quero ser portadora de notícias apocalípticas, muito menos terrorista climática, mas precisamos, em primeiro lugar, encarar a realidade, para então, buscarmos alternativas, soluções, formas de agir no mundo de acordo com as consequências do que já fizemos de errado.

O vermelho sanguíneo do sol poente

Posso dizer que sou uma contemplativa. Os dias de hoje têm dado shows na hora do sol poente, que com uma cor vermelha sanguínea, reflete tanto a beleza estética quanto a anomalia do calor letal. É um sol desafiador e belo, mas não podemos romantizar.

Contemplar o pôr do sol pode ser um bom momento para fazer um check list: tomar mais água, verificar minhas possibilidades de resfriamento da casa, do carro, do trabalho e ainda assim, da forma mais sustentável possível, para não prejudicar mais ainda, a Terra febril, o entorno. E contar minha pegada ecológica, a contabilidade ambiental. Teste aqui a sua.

Contemplar o pôr do sol pode ser um bom momento para fazer um check list/Foto: Marcello Casal Jr, Agência Brasil

Solidariedade climática

Acredite, será gratificante praticar a solidariedade climática, semeando boas ideias para as pessoas. Por exemplo, plantios comunitários, materiais que colaboram para o equilíbrio das temperaturas, alimentos que ajudam a enfrentar as fortes ondas de calor para evitar seus sintomas: tonturas, enjoos, mal-estar e fraqueza. Exercícios para nosso fortalecimento.

Podemos até mesmo conversar mais entre nossos grupos sobre as formas de proteção diante das temperaturas extremas. Como proteger as plantas, os animais.

Como manter a sanidade mental e a saúde física em tempos de clima extremo. Como prever os custos das tragédias e providenciar recursos. Como vislumbrar sinais de perigo com mais antecedência. É tarefa de todos, cada um na sua área.

Décadas de alertas

Então surgiu a conclusão dos cientistas de que, devido ao El Niño (que poderá ser mais intenso do que em outros anos e pode variar entre seis meses e dois anos) e com as instabilidades climáticas, os oceanos mais quentes são um sinal de que, se fosse um ser humano, a Terra estaria com febre. São tantos alertas, e o que fazer? Qual o remédio para essa febre?

O chamado estresse térmico já matou milhares de idosos na Europa, nos EUA, na Austrália, e no Brasil não é diferente. E sim, o calor mata as pessoas que estiverem vulneráveis, assim como o frio extremo mata. Não sejamos surdos negacionistas.

As ondas de calor não são uma rebeldia de São Pedro. Não é alarmismo. Apenas fique alerta e com força de vontade para reagir da melhor forma.

Esta semana tomei conhecimento do estudo que conclui que a Terra deixou de ser segura para a atividade humana.

Bom, apenas alguns bilionários podem encarar viagens para colonizar outros planetas ou bunkers com todas as condições de viver longe do calor extremo. Não é o meu caso e, provavelmente, nem o seu. É preciso agir.

Práticas contra a extinção

Assim, é preciso planejar, pensar, buscar soluções para sobreviver na Terra febril que está tecnicamente em ebulição e na qual, mesmo com toda a sua beleza, corremos o risco iminente de sucumbir devido às ações que nós, humanos, temos teimado em repetir. Não culpe a natureza. A natureza e toda a poluição e confusão, somos nós.

Quem mais sofre? Primeiro as plantas, em franca extinção; depois os animais e, por fim, o ser humano vê um caminho crível de grande diminuição da espécie.

Aliás, pesquisas já atestam que o humano masculino está entrando em extinção. É hora de acordar e acreditar que podemos melhorar nossa performance como humanidade.

Assim, quem sabe, poderemos preparar um futuro mais justo ou simplesmente viável para as nossas crianças poderem respirar. Coragem. Vamos juntos.

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