Paralelo 29

CÁ ENTRE NÓS: Estamos plastificados!

Foto: Martine Perret, ONU, Meio Ambiente

ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA

O insight aconteceu quando abri uma gaveta na cozinha. Ali guardo sacos para acondicionar o lixo seco, luvas descartáveis para eventualmente proteger as mãos e sacos para acondicionar a carne.

Tudo plástico e eles são considerados muito úteis, pois facilitam nossas vidas. Mas como diz uma pesquisa recente, partículas de plásticos já foram encontradas no coração de pessoas. A verdade é que estamos plastificados. Minhas gavetas me condenam.

Aquela gaveta não é a única! Acordo e olho a cena: Vejo os derivados do petróleo que vamos manuseando no decorrer do dia. Os malditos combustíveis fósseis estão por toda a parte. A Terra já avisou sobre limites. Veja, estamos dormindo no ponto da vida.

Hoje, notícias sobre essas questões estão em todos os lugares. Mas como efetivamente mudar para ser mais gentil com a natureza?

Temos ainda o grande número de procedimentos estéticos, quando inserimos materiais artificiais no próprio corpo para manter a beleza. Sem julgamentos, faço a observação. Não é algo natural.  

Achei muito feliz a frase que circulou nas redes recentemente, citando que a nossa vida é bem menor que a de uma sacola plástica e que, portanto, devemos facilitar as coisas.

Sim, as malditas sacolinhas demoram de 400 a mil anos para se decompor na natureza. E são quantas? Segundo o site Pensamento Verde, 1 milhão de sacolas plásticas são usadas em todo o mundo a cada minuto. Como reverter?

Sacolas plásticas: um sério problema para o meio ambiente/Foto: Fernando Frazão, Agência Brasil

Números insanos

Sempre digo, para conscientização, temos fatos. Para perguntas não temos respostas, mas sinais, e a urgente necessidade de agir.

Dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022 mostram que a geração de resíduos plásticos nas cidades brasileiras foi de 13,7 milhões de toneladas em 2022, ou 64 quilos por pessoa no ano.

Segundo o panorama de descarte, o Brasil ocupa a quarta posição no mundo na produção de lixo por plástico. São calculadas 11,3 milhões de toneladas de plástico por ano. Quando e como vamos reverter este número? É insano.

A economia circular

Muitas pessoas estão pensando, pesquisando, estudando formas de melhorar o panorama. Nesse sentido, vem o conceito da economia circular.

Diferente da economia linear, quando tudo que é consumido vai para o descarte, a economia circular é um conceito que faz parte do desenvolvimento sustentável. Sabemos que a economia, ao lado dos aspectos sociais e ambientais, faz parte do tripé da sustentabilidade.

A inspiração vem de noções de permacultura econômica, economia verde, economia de reuso, economia de desempenho e, ecologia industrial, alguns exemplos.

Temos boas práticas como brechós ou compartilhamento de objetos. Mas afinal, o que euzinha aqui posso fazer para girar essa roda e livrar o meio ambiente?

Tenho mais perguntas do que respostas. Mais ânsias do que soluções. Resta-me citar as boas iniciativas e encorajar meus leitores a buscarem inspirações sobre o assunto para fazer alguma diferença.

Uma baleia agonizando aqui na praia

Baleia encalhada em praia de Florianópolis/Foto: Laura Lídia Rosa, Ecomentora

Neste domingo fomos surpreendidos pela presença de uma baleia Cachalotte de 11 metros encalhada na praia, aqui no bairro vizinho. Não tenho mais condições de assistir a este tipo de cena.

Ambientalistas, biólogos, estudiosos e muitos curiosos foram para o Morro das Pedras assistir, rezar, tentar ajudar a diminuir a agonia do animal, que ainda está na orla, em sofrimento.

O que aconteceu com ela? Especialistas falam em estresse. A vida no mar está a cada dia pior. Não é a primeira, nem será a última baleia que assistiremos agonizar.

Na realidade, as malfadadas sacolas plásticas, potes e objetos não estão entre nossos maiores problemas. O que me dizem sobre as redes de pesca bordadas nos oceanos, arrastando os seres marinhos para a morte sem nenhum critério? Os números são escandalosos.

Muito mais do que canudos copos e garrafas, estima-se que 85% do lixo plástico encontrado nos mares são de redes de pesca. Já ouvimos falar da ‘Ilha de Lixo do Pacífico’, um gigante redemoinho que acumula quase 80 mil toneladas de plástico e tem quase duas vezes a área da França. Quase metade desse lixo é de redes de pesca.

De acordo com a World Animal Protection, anualmente os oceanos recebem 640 mil toneladas de material de pesca descartados ou perdidos, sendo que as redes de plástico compõem a maior parte.

Estima-se que mais de 130 mil animais como focas, leões-marinhos, tartarugas e baleias sejam mortos por essas redes todos os anos. Muitas redes de pesca que foram jogadas no mar há mais de 100 anos continuam matando animais até hoje!

Enfim, a lista é longa, os números são muitos. O melhor a fazer é ver como podemos facilitar a vida com o pouco tempo que nos resta, diante da imensidão de tempo que a Terra vai levar para engolir todo esse desaforo, esse descaminho das coisas, esse descaso cruel e sujo da humanidade.

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