ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
A polaridade da minha infância era mais fácil e mais divertida. Nos matinês de domingo, lá no cine Neno, em Santiago do Boqueirão – quem não é bandido é ladrão –, havia o mocinho e o bandido nos faroestes, e a nossa torcida, lógico, era para o mocinho.
E o mocinho sempre ganhava.
Atualmente, a polaridade está envolta em múltiplas versões e várias faces. Verdades e mentiras batem orelhas no nosso visor. E quando envolve uma guerra, então, as justificativas são variadas.
Alguém inventou a palavra geopolítica para apoiar os assassinatos, os estupros e bombardeio de cidades pelos invasores e terroristas em ação.
Assim, pipocam na web explicações e inúmeras visões de acordo com as vivências e experiências. Mas, na minha modesta opinião, quando leio uma análise e não consta a expressão “Direitos humanos” eu ponho uma pulga atrás da orelha. E encerro minha leitura quando leio a primeira palavra geopolítica. Agarrei uma certa ojeriza deste termo que tudo legitima.
Nessa nova era digital… virtual… fatal… de inteligência artificial, as mudanças não são para todos. Quando a corda rebenta, a velha máxima continua a mesma, pois rebenta no lado mais fraco.
Estamos num mundo repleto de injustiças, tragédias, efeitos adversos do clima e guerras e muita incerteza sobre o futuro.
Confrontos nos quatro cantos da Terra, morte de inocentes e civis e migrações em massa para fugir do horror. A sobrevivência pede socorro. No Brasil, estiagem no norte e enchentes no sul e mais sofrimentos dos mais necessitados.
As chacinas estão virando rotina e queima de arquivo é o contraponto de um estado paralelo – no caso, bandido matando bandido –, e uma justiça ineficaz.
E a solução nunca vem, apenas discursos vazios de autoridades públicas prometendo soluções e reformas. Mas o que funciona mesmo é o velho toma-lá-dá-cá.
Na mais recente contenda entre Hamas e Israel, também temos os mocinhos e bandidos, dependendo da base ideológica analisada e da tal geopolítica.
Aí pululam nas redes sociais os historiadores de plantão que tudo explicam. Mas quando incluímos a expressão “Direitos humanos” no texto, não existe base ideológica que se sustente e ambos viram bandidos, assassinos sanguinários e genocidas.
E, por fim, eu carrego comigo um trauma de infância, pois nasci em Santiago do Boqueirão e até hoje não sei se sou bandido ou ladrão.