Paralelo 29

“Vem, vamos lutar! Ecoar um só grito”: 2º Brasil Terra Indígena tem início na UFSM

Foto: Divulgação

Na noite dessa segunda-feira, lideranças de diferentes povos indígenas se reuniram na UFSM para celebrar e promover a cultura ancestral na Universidade

Por Andreina Possan da Rosa, acadêmica de Jornalismo, voluntária da Agência de Notícias da UFSM, com edição do jornalista Ricardo Bonfanti

Com “Mulheres: corpos territórios indígenas em resistência”, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) promoveu o início da 2ª edição da semana “Brasil Terra Indigena – O Futuro é Ancestral”.

O painel ocorreu no auditório do prédio 18 (CCNE), noite de segunda-feira (23), e contou com a participação de lideranças indígenas como a deputada federal Célia Xakriabá, do PSOL-MG (de forma online) e a cacika do Povo Pitaguary Clécia Pitaguary.

O objetivo é promover a cultura indígena dentro da Universidade. O tema deste ano, “O Futuro é Ancestral”, foi pensado a partir da ideia de que é preciso aprender com o passado para podermos mudar o futuro. É o que destaca Xainã Pitaguary, aluno de Direito da UFSM e um dos coordenadores do evento.

Para ele, é muito importante que possamos refletir sobre nossa humanidade e que possamos nos reconectar com os valores ancestrais, buscando a sabedoria dos povos indígenas para preservar a natureza e mudar o futuro.

Ele ainda destaca que a UFSM é uma referência na assistência indígena, sendo a primeira Universidade a possuir uma Casa do Estudante Indigena do Brasil. Por isso, é muito importante que eventos como este sejam implementados na Universidade para demarcar um território que é do povo indígena por direito.

A mesa da cerimônia foi composta pela cacika do Povo Pitaguary Clécia Pitaguary; pela liderança indígena Regina Goj Tej Emilio Kaingang; e pela liderança jovem da Aldeia Miratu, do Pará, Yaa Juruna.

A deputada federal Célia Xabriabá, que não pôde estar presente por conta de compromissos no Congresso Nacional, fez uma fala de forma remota, via Google Meet.

Ela ressaltou a importância do evento na Universidade para que se discutam pautas de interesses indígenas e que, dessa forma, seja possível demarcar a Universidade, através da caneta, a “fortuna do pensamento”“a arma do século 21”, segundo ela, que encerrou dizendo:

“A Universidade Federal de Santa Maria é um lugar muito importante para a descolonização do pensamento. Nós chegamos para indigenizar e trazer essa diversidade, porque nós entendemos que diversidade sustenta exatamente esse Brasil, esse Brasil profundo, com quase 1,7 milhão de indígenas“. 

Apresentação de crianças Guarani na abertura do evento/Foto: Divulgação

A liderança do povo Kaingang Regina Kaingang seguiu a solenidade, e, ao encontro da fala de Célia Xabriabá, destacou que a luta pela demarcação de seus corpos, seus territórios e da universidade é histórica, citando Augusto Ópẽ da Silva, líder Kaingang falecido em 2014.

Ela reitera que apenas agora lideranças indígenas femininas estão à frente dessa luta ancestral, e que hoje os indígenas têm voz e que não se calarão novamente, que contarão suas próprias histórias e, principalmente, que as mulheres não serão colocadas como símbolos sexuais.

“É o nosso papel garantir, enquanto mulheres, enquanto lutadoras, enquanto respirarmos, que nenhuma menina será mais violentada em nossos territórios, porque nós estaremos lá. Nós somos as guardiãs”, comentou Regina Kaingang, que encerrou dizendo: “Árvores dão frutos, dão sombra, mas podem cair em cima de quem estiver embaixo dela. Então, somos assim: Kaingang resiste. Temos que resistir para existir. O meu corpo é meu território e quem manda nele sou eu”.

A cacika do Povo Pitaguary, Clecia Pitaguary, destacou a forma como a humanidade vem lidando com o planeta. Ao encontro da edição deste ano do evento, a cacika comentou sobre a desvalorização da vida por parte dos seres humanos.

“Nós somos tão mesquinhos que nós colocamos em risco a nossa humanidade. Nós estamos colocando em risco essa raça humana, com tanta agressão que nós causamos à nossa Mãe Terra, ao nosso ambiente, aos nossos animais. E nós nem pensamos nos nossos filhos, nossas crianças que também têm o direito de viver, de conhecer aquilo que foi deixado pelos nossos antepassados”, destacou.

O painel também contou com apresentações artísticas de crianças Guarani, na abertura, e do grupo de dança Kaingang de Ventarra, ao final.

programação da 2ª edição do “Brasil: Terra Indígena – O Futuro é Ancestral” se estende até sexta-feira (27), com palestras, oficinas de pinturas corporais, rituais tradicionais, apresentações de trabalhos de estudantes indígenas e compartilhamento da cultura ancestral.

Texto:
Fotos: Reprodução
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista

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