ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA
O famigerado El Niño, que promete castigar neste mês de novembro, vai passar. E o que aprenderemos com ele? Sim, quais lições vamos tirar desta condição extrema? A ciência pode não ser tudo, mas há décadas tem nos alertado e há uma surdez coletiva.
Precisamos ouvir quem tem conhecimento, para sobreviver. Ter a humildade de aprender a valorizar a vida em seus mínimos detalhes.
Eu acho difícil acreditar que, ainda hoje, depois de tanta produção de conhecimento, com o acesso instantâneo à informação sobre os fatos, haja tanta ignorância.
Do Sânscrito Avydia, o não saber é perigosamente revestido da sensação de que se sabe. Mas não, não sabemos, e nem sequer sabemos de nossa ignorância. Pior, estupidamente temos a forte crença de que sabemos o que é melhor fazer.
Por que penso em saberes neste momento? Porque há tantas obviedades sendo ignoradas e porque saber não parece ser o suficiente para evitar todo o sofrimento de tantos, ao mesmo tempo.
Penso nos povos originários. Observe a prática das etnias que ainda não foram massacradas em nosso país: são ferramentas de preservação da vida, consultam os céus, as plantas, o espírito maior da natureza. Sobretudo, respeitam a vida ao seu redor.
Algo que é urgente sabermos: hoje, o ponto central é a nossa vulnerabilidade ambiental. Somos, a cada dia mais, refugiados do clima. Do clima que nós modificamos.
É hora de adaptação a cenários que vieram para ficar. A ciência é uma grande aliada para encontrarmos soluções mais efetivas. Os problemas não são da chuva, da seca, os problemas são nossos. E nós somos a solução. Nossa ação vai definir nosso futuro para hoje à tarde, para a noite, amanhã.
Sim, devemos abraçar árvores. Sentir sua força. Folhas e flores no chão não são sujeiras, não as limpe. Sinta o aroma das flores, a delicadeza da chuva, sinta o calor do sol em sua pele. Estar em contato com a natureza certamente nos sensibiliza e ajuda a entender a força da vida em suas manifestações.
Muitas vezes, me dizem que eu estou sonhando (que bom!), que estou fora da realidade (será?) e que não vou salvar o planeta (vou). Vamos. Se estivermos dispostos a diminuir nossa ignorância sobre a vida.
É bom reforçar, a água sempre foi a mesma no planeta, porém, em desequilíbrio, muito falta ou muito sobra. E têm as nossas mãos nisso. Urge a inteligência de armazenar este bem precioso onde sobra para utilizar onde falta. Mais uma obviedade.
Os estudiosos estão aí, cheios de soluções, querendo ser ouvidos. Urge uma gestão produtiva, urge reunir quem sabe as soluções e agir com uma visão maior que o próprio umbigo.
É hora de escolher se encontraremos um caminho de valorização da vida ou se sucumbiremos a nossa própria ação destrutiva. Qual a sua opção?