Paralelo 29

Ex-alunas da UFSM estão entre as 100 Mulheres Doutoras do Agro da Forbes

Arte gráfica: Lucas Zanella, acadêmico de Desenho Industrial, estagiário

Dayanna Nascimento e Elissa Vizzotto destacam a importância da Instituição em suas trajetórias acadêmica e profissional

Por Laurent Keller, acadêmica de jornalismo e voluntária da Agência de Notícias da UFSM

Duas ex-alunas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foram incluídas na lista das 100 Mulheres Doutoras do Agro em 2023, divulgada pela Forbes em reconhecimento à dedicação de mulheres que lutaram para se aperfeiçoar em suas carreiras no meio rural, por meio do doutorado.

Elissa Vizzotto, zootecnista e doutora em Nutrição, e Dayanna Nascimento, integrante da Secretaria de Estado do Meio Ambiente no Mato Grosso e doutora em Engenharia Florestal, são as egressas da Universidade exaltadas pela revista mais conceituada nas áreas de negócios e economia do mundo. A lista foi divulgada em 15 de outubro, Dia Internacional da Mulher Rural.

A trajetória de Elissa

Elissa, atualmente coordenadora de Bovinos de Leite Premix, em Goiânia (GO), iniciou sua trajetória acadêmica na UFSM pelo Colégio Politécnico, formando-se como técnica agrícola com habilitação em agropecuária, e, em 2011, graduou-se no curso de Zootecnia.

Após se formar, migrou para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde realizou seu mestrado e doutorado, até 2018, quando finalizou os estudos.

Suas pesquisas têm como foco principal analisar o comportamento de bovinos leiteiros nas fazendas, a fim de proporcionar avanços para a indústria agropecuária.

A trajetória de Dayanna

Já Dayanna construiu sua carreira no meio universitário toda na UFSM: ingressou na graduação de Engenharia Florestal em 2008, depois entrou no mestrado e no doutorado do mesmo curso em 2014 e em 2016, respectivamente.

Durante o mestrado, trabalhou com fauna edáfica na área de mineração de carvão, e, no doutorado, estudou a diversidade genética e a rota de dispersão de Thaumastocoris peregrinus.

Em 2020, iniciou o pós-doutorado na área de diversidade genética e filogenética, até que, em 2021, foi chamada para lecionar na Faculdade Centro-Matogrossense (Facem), em Sorriso (MT).

No momento, atua na Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso, como analista de Meio Ambiente, no Cadastro Ambiental Rural, no setor de tipologia vegetal.

Elissa Vizzotto é coordenadora de Bovinos de Leite Premix, em Goiânia (GO)/Foto: Arquivo Pessoal

Egressas são exemplo

Infelizmente, Elissa e Dayanna são pontos fora da curva em meio à realidade da maioria das mulheres que atuam no agro: dados de 2018 da Fundação Getúlio Vargas (FGV) demonstram que apenas 34% dos cargos gerenciais do agronegócio brasileiro são ocupados por mulheres, seguindo um padrão mundial, já que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) indica que 85% das propriedades agrícolas pertencem a homens.

Contudo, ao menos no meio acadêmico, o público feminino está alcançando seu espaço. Conforme a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o número de mulheres com doutorado no Brasil tem crescido nos últimos anos: entre 2013 e 2019, elas passaram de 8.315 para 13.419, superando, inclusive, os homens, que foram de 7.336 para 11.013 no período. 

Nesse sentido, Dayanna Nascimento comenta que, mesmo possuindo um currículo completo e um cargo respeitado, ainda precisa lidar com machismos na sua rotina. 

’Alguns homens duvidam da nossa capacidade técnica e emocional, e é nisto que estamos ganhando visibilidade, mostrando que estamos ali porque somos profissionais qualificadas, competentes, capazes de resolver diferentes situações com inteligência e podemos atuar em qualquer segmento’’, reforça a doutora seu desejo por mais oportunidades e respeito ao público feminino.

Justamente por todos os entraves que tantas mulheres ainda enfrentam hoje em dia para conseguir se estabelecerem no meio acadêmico e no mercado de trabalho, Dayanna sente o peso da responsabilidade de estar em uma lista que trata de um segmento tão masculino como é o agro.  

Somado a esse peso, a analista de Meio Ambiente conta ter ficado sem acreditar quando soube da sua inclusão na listagem da Forbes: ‘’foi uma surpresa total, fiquei incrédula e super feliz ao ver que meu nome estava entre as 100 mulheres doutoras do agro. Foi muito emocionante.’’

Ao encontro disso, Elissa Vizzotto se mostrou muito grata à indicação da Forbes e destacou a importância do suporte dado pela empresa em que trabalha para que alcançasse tal reconhecimento.

Afinal, as companhias desempenham a função, ou ao menos deveriam, de impulsionar suas funcionárias em busca do crescimento profissional, bem como as instituições de ensino devem fazer. 

Dayanna Nascimento para leciona na Faculdade Centro-Matogrossense, em Sorriso (MT)/Foto: Arquivo Pessoal

UFSM e o suporte às acadêmicas

No caso da UFSM, Dayana exalta o papel da Universidade em sua história e afirma ter muito orgulho de incluir o nome da Instituição em sua trajetória, além de reforçar a relevância da participação de projetos durante sua graduação. 

“Sinto-me privilegiada por ter passado pelo laboratório de Entomologia Florestal durante minha formação acadêmica. Nunca houveram distinções entre homens e mulheres para fazerem parte da equipe”, afirma.

Relato semelhante foi feito por Elissa, que conta ter integrado o núcleo de pesquisa em produção e comportamento de bovinos de leite durante a graduação, área pela qual se diz ser apaixonada.

E esse carinho e gosto pela profissão precisa ser estimulado no ambiente universitário, de acordo com o professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFSM Jorge Farias. 

A Universidade não está aqui para formar mão de obra para o mercado de trabalho. A Universidade está aqui para gerar conhecimento, para formar cabeças, desenvolver intelectualidade. Então, quando nós temos uma egressa que fez um curso de graduação, fez a sua pós-graduação pesquisando tanto pesquisa básica como aplicada, e isso gerando ganhos para a sociedade ao ponto dela ser reconhecida, isso resume melhor do que tudo a razão de existir da Universidade. A premiação delas é o sinônimo do nosso tripé: pesquisa, ensino e extensão”, afirma.

Farias foi docente de Dayanna tanto na graduação, quanto na pós, e relata sua satisfação de ver a dedicação do corpo docente e da UFSM como um todo resultar em um reconhecimento tão positivo como estar em uma lista da Forbes: “são esses alunos que acabam nos inspirando. […] Acredito que a universidade cumpre seu papel quando ela dá oportunidade”.

No mesmo sentido, Dayanna deixa como recado às universitárias a importância de aproveitar as oportunidades de bolsas, projetos de extensão, pesquisa, e demais espaços e atividades oferecidas dentro do ambiente universitário.

Também expõe que existirão obstáculos a serem enfrentados ao longo da carreira, mas que o importante é não desistir: acredite nos seus sonhos, lance seus objetivos e corra atrás, pois tudo é possível!”, ressalta a doutora a todas as jovens que possam se inspirar em sua trajetória.

Arte gráfica: Lucas Zanella, acadêmico de Desenho Industrial, estagiário
Fotos: Arquivo pessoal
Edição: Ricardo Bonfanti, jornalista

Compartilhe esta postagem

Facebook
WhatsApp
Telegram
Twitter
LinkedIn