Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: Uma cruz simplesinha

Prosa literária: Olívio Dutra, Antônio Candido e Athos Miralha na Feira do Livro de Porto Alegre/Foto: Télcio Brezolin

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Eu faço parte da turma dos missioneiros que usam a Cruz de Caravaca na lapela… ou na gola. Mais uma espécie de certificado de origem do que uma profissão de fé.

Com esta estampa me dirigi até a praça de autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre para prestigiar o lançamento de “Telúrico” livro de poesias de Cândido Brasil – também um missioneiro da cepa –, tivemos tempo para um agradável bate-papo acerca dos temas que nos cercam e merecem nossa a tenção: a literatura. Produção, escrita e vendas… essas coisas de atores que estão em toda a cadeia do livro. Da primeira linha até ao consumidor final. Não é fácil ser escritor por estas bandas do sul!

Naquela tarde grandes figuras públicas estariam lançando e, certamente, longas filas diante de suas mesas. Não era o caso do Cândido. A sessão de “Telúrico” foi excelente e bem concorrida, com a presença da grande mídia local. E com número de autógrafos dentro da média sensata para escritores normais. Lembrando que de perto ninguém é normal.

Mas no instante em que estávamos proseando, um senhor se aproxima, com o livro a ser autografado em mãos. O bigode mais famoso do estado estava na fila dos autógrafos.

E também portava a Cruz Missioneira na gola da camisa. Logo, protagonizamos uma bem-humorada conversa. Éramos três missioneiros na Feira do Livro em Porto Alegre. Lógico, cada um com sua estatura.

Então, comentei que tínhamos algo em comum naquele momento: a Cruz Missioneira.

– Também uso a cruz no peito – e apontei para a lapela.  

A minha cruz eu comprei, já faz um bom tempinho, lá em São Miguel da Missões. Estava perdendo o brilho do folheado. O tempo é implacável com as bijuterias.

A cruz na gola de Olívio, estava bem mais brilhosa. Acho que poderia ser de ouro. [Achismo de um ex-avaliador de penhores]. Então, ele aproximou o olhar para a minha cruzinha e falou.

– Mas a tua é bem simplesinha – com aquele timbre de voz bem particular.

Eu também faço parte da turma que não perde a piada. Como um raio, contei os botões da minha bombacha virtual. E lasquei.

– Mas a minha é de povão… – e deixei reticências no ar…

– A minha eu ganhei de presente – a resposta veio de pronto.

Claro, rimos. Não iríamos criar uma divergência na luta de classes naquele momento por conta de uma cruzinha simplesinha.

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