Paralelo 29

CÁ ENTRE NÓS: Consciência Negra. Temos quanto?

Cais do Valongo, Rio de Janeiro/Foto: Fernando Frazão, Agência Brasil

ALESANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA

Pisei no Rio de Janeiro dia 18, sábado, e ao primeiro contato com o calor extremo deu vontade de sair correndo. Calor de maçarico, eles dizem.

Imagine que você está assando um churrasco no dia mais quente do ano: é pior. Mãe de Swifty (fã da Taylor Swift) há 15 anos, já passei perrengue para acompanhar a filha nos shows.

Tivemos sorte, já que o ingresso era para o domingo, e aí que veio foi a chuva, menos mal. Mas neste Dia da Consciência Negra, uma reflexão é necessária: quem mais sofre com o calor extremo?

Na praia de Copacabana, com sensação térmica de 46 graus, quem passava gritando para vender o mate, o biscoito Globo, a água e a cerveja? Eles, todos negros.

Curtidos do sol, com suas vozes poderosas ganhando o pão do dia graças à força de sua natureza. Numa cidade em que as comunidades dos morros são pontos turísticos, é de lascar rever essa antiga realidade: gente do mundo inteiro tem curiosidade de ver a pobreza, a situação e a força necessária para viver ali.

Mas o Rio se colore e se reinventa: transforma tudo em arte, em samba, em movimento! Agora reaberto, o Cais do Valongo foi parada obrigatória na região portuária. Aquelas pedras antigas, Patrimônio da Humanidade pela Unesco, representam a ferida profunda da escravidão.

Ali chegavam os africanos e ali mesmo eram negociados, famílias divididas para nunca mais, de acordo com os interesses dos compradores. Eram produtos do comércio local. O que mudou?

Sim, há uma intensa luta e, portanto, resultados. Ressalto aqui um deles, que comemoro com esperança: o Brasil propõe à ONU três novos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), além dos 17 já existentes: ODS 18 – Igualdade Racial, ODS 19, Arte, Cultura e Comunicação e ODS 20, Direito dos Povos Originários e Comunidades Tradicionais.

A jornada pela civilidade é longa, excruciante. Os pretos, jovens, pobres, continuam morrendo nas mãos da polícia, para o desespero das mães, que já carregam o peso de serem mulheres nessa história de tanto preconceito e crueldade.

Mas sim, vivas à força desse povo preto, vivas à sua arte, músculos, vozes, talentos, cores, fé, cabelos, pele, dentes, ritmos, comidas, vivas à cultura mais rica e abençoada do nosso Brasil!

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