Paralelo 29

CÁ ENTRE NÓS: Palavras, a vida inteira

Foto: Marcello Casal Jr, Agência Brasil

ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA

Nas idas e vindas da vida, tudo o que permanece fiel está no alfabeto. Dias bons, dias ruins, tenho a certeza da presença indelével, inabalável delas, as palavras. Pode, por vezes, me faltar o ar, o alimento, o remédio, o sustento. Permanecem elas, inspiradoras, me fortalecem e sigo com elas, são meu alento.

Só por causa delas, o fio da vida faz sentido. Reúnem-se, trocam de lugares, se reagrupam e formam nova oração – permanecem vivas, meu pensamento, inspiração. São as palavras matéria-prima da evolução/revolução: gritam e calam, jamais desaparecerão!

São elas que me ajudam a contar a vida, a ganhar a vida, a suportar a dor e a rotina do inspirar e expirar, as horas do dia. Descrevem belezas, formas, cores. Anunciam fatos, ideias, amores. Sim ou não, significam encruzilhadas da vida na boca de cada um.

Não há dias ou noites, nem hora. As palavras chegam, mudam, voltam, desnudam a realidade, criam a fantasia do homem. Múltiplas, se expandem por países, ganham matizes de outras gentes, cores, sangues. Seguem inexoravelmente vivas, descrevendo as vidas, significando bênçãos e horrores.

Descrevem o horror da guerra – são as piores, mas também aparecem em forma das mais belas orações. Ficam nas páginas de livros, imóveis nas estantes. Mas quem ousa lançar mão de sua magia poderá experimentar vida nova, novos sonhos, outras dimensões.

Palavras estão em tudo, nos bilhetes, nas receitas, nas bulas e instruções, estão nos panfletos libertários, nas leis e nas canções. Brotam do coração ou da fúria das nações. São o corpo das notícias de como será o dia, como será o ano, o século, as estações.

Aparecem em números, podemos contá-las, brotam das redações, dos teclados, das mãos de quem traz o que virá, o que foi. Revelam o que não há. Revelam o itinerário, o tempo, os frios e calorões.

Deságuam nos livros e encantam gerações com histórias que comovem, surpreendem, emocionam e esclarecem sobre a vida e a morte de quem lê.

Basta ler. São generosas, enfeitam as canções. Estão nos ensinamentos das religiões, nos conteúdos, nas lições. Nas pontas dos lápis, do giz, nos teclados e nos dedos, nos corações. São elas que revelam as verdades benditas, as maldições e aflições.

Tudo se vai, mas ali estão as letras, disponíveis na matéria ou no pensamento. As agrupamos e transmitimos luz, ou não. É uma escolha, uma opção.

Quando o desespero bate, não há mais nada, há o vazio interior. Quando a esperança quase acaba e enfim, falta o amor.

São elas que fazem eco, permitem que a vida siga e que tudo faça sentido, descrevendo as belezas das pétalas de uma flor.

Sim, as palavras, abertas e verdadeiras, são elas a vida inteira, são elas o meu motor. Para seguir e enfrentar a dor, seguir e construir este ser que sou eu, tão sonhador.

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