Paralelo 29

CÁ ENTRE NÓS: Eu, você e o petróleo

Foto: Agência Brasil

ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA

Acompanhando e observando as notícias sobre a COP 28 em Dubai, tento imaginar quando aqueles poucos que ganham muito com a produção de combustíveis fósseis e produtos poluidores decidirão, enfim, aliviar o calvário do planeta, que agoniza em CO2 e junto, nós, reles mortais.

Se existe alguma igualdade nisso tudo, está nas necessidades básicas. Todos nós precisamos de ar puro, alimento, água, remédios, abrigo das intempéries. O básico do básico para viver.

Então temos o petróleo, descoberto nos Estados Unidos em 1859. Pesquisando no site do Serviço Geológico do Brasil (SGB) encontrei a seguinte frase: “O petróleo é um negócio tão rentável que se costuma dizer que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada e que o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada”. Vamos nos deter no petróleo, e deixar de lado o carvão e o gás. Por enquanto.

O grande dilema da atualidade é que o petróleo é uma solução para a economia e um grande problema para o meio ambiente.

A ministra Marina Silva tem a bravura e a coragem de declarar que é preciso acabar com a produção de combustíveis fósseis e impulsionar as energias renováveis, o que parece ingenuidade diante da sua importância para a economia.

Mas nesta COP 28 em Dubai, pelo menos na minha cabeça, ficou a pergunta: se o Brasil é um país que pretende estar entre os líderes mundiais no combate às mudanças climáticas e nas principais questões ambientais, como se explica sua entrada na OPEP (Organização dos Países Ex-portadores de Petróleo)?

Eis um desafio imenso: não ceder às riquezas que o petróleo pode garantir, em nome do equilíbrio da natureza. Quero crer que a estratégia do governo é entrar na sala onde está o monstro e lidar com ele no sentido de conhecer o inimigo de perto.

Porém, sabemos o quanto precisamos de recursos para o desenvolvimento de um país gigante como o nosso. Os caminhos sustentáveis ainda são poucos, porém, será na perseverança, aliando tecnologia com boas práticas ambientais e sobretudo, bom senso, que poderemos conseguir resultados minimamente satisfatórios para proporcionar vida para as próximas gerações.

O tamanho da nossa dependência

O petróleo, este combustível fóssil considerado um dos principais recursos naturais utilizados como fonte de energia da atualidade, é descrito como um óleo menos denso que a água e inflamável.

A substância é uma mistura de moléculas de carbono e hidrogênio que têm origem na decomposição de matéria orgânica, formada por meio da ação de bactérias em ambientes com pouco oxigênio. No decorrer de milhões de anos, esse material se acumulou no fundo de oceanos, mares e lagos.

Informa o SGB que cerca de 90% do petróleo é utilizado com fins energéticos, seja nas centrais termoelétricas, seja como combustível para os meios de transporte ou fornos industriais.

Dos 10% restantes, são extraídos os produtos que abastecerão as indústrias (60% das matérias-primas utilizadas na indústria mundial vêm do petróleo). Veja o quanto esses números mostram a dependência que temos do petróleo.

Para termos ideia do quanto utilizamos essa substância em nossas vidas, podemos observar seus derivados, considerados infindáveis pelas riquezas que produz.

Refinado, permite a produção dos combustíveis e da nafta, a forma líquida do petróleo sem cor, com potencial de destilação semelhante ao da gasolina, que é a matéria-prima para toda a cadeia de produção de resinas plásticas. Sim, para os abomináveis plásticos.

Assim, acordamos todos os dias e utilizamos o gás de cozinha. Saímos para trabalhar de carro utilizando gasolina, óleo ou diesel e ligamos motores, máquinas, que possibilitam a produção e a força da economia do país. E temos nossas garrafas plásticas, tubos e conexões para receber a água.

Pense na quantidade de objetos da indústria. O SGB faz uma listinha: brinquedos, adesivos, lonas, frascos de soro, tampas para alimentos, calçados, pneus, tintas, tampas para refrigerantes, frascos para água sanitária, amaciantes, alvejantes, desinfetantes, xampus, desodorantes, maionese, adoçantes, filmes para fraldas descartáveis e coletores de lixo, medicamentos, material hospitalar, tecidos, asfalto e até o chiclete que mastigamos. Eis nosso desafio: proteger o planeta e saber lidar com tudo que o petróleo produz.

Há muitas saídas, e isso depende da formação de uma cultura sustentável e uma transição justa na produção de energia renovável, a recomposição da indústria e principalmente, a consciência de cada um em seu fazer diário. Resta seguirmos em frente, garimpando soluções e acreditando que é possível.

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