Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: Rincão do Inferno

Foto: Athos Ronaldo Miralha da Cunha

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ADVOGADO E ESCRITOR

No poema “Quando esta pandemia passar” II Florada de versos, mencionei que um dos meus objetivos de Andante pós-confinamento seria conhecer o Rincão do Inferno.

No dia 25 de novembro, enfrentamos tal façanha. Saímos de Santa Maria às 5:30h e rumamos para Bagé, no limite com Lavras do Sul.

Há lugares cujos nomes evocam mistérios e lendas, instigando a curiosidade daqueles que se aventuram a explorar as entranhas de suas histórias. A assustadora denominação é devido às peculiaridades geográficas e ao folclore que permeia a região.

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Ao adentrar os caminhos que levam a esse recanto, somos recepcionados pela geografia de milhares de anos… cavernas e pedras moldadas por um mar que banhava estas paragens muito antes dos “dinos” derem as caras por aqui. A natureza impera nesta pangeia escultura.

É um chamamento ao visitante para se perder nas nuances das trilhas em meio as rochas que parecem desabar com a nossa passagem. Tudo é muito lindo e assustador.

As rochas do Rincão do Inferno guardam silêncios que parecem esconder segredos e segredos que, por sua vez, alimentam as narrativas que ecoam entre os pássaros e os enxames de abelhas. Há zumbidos, cantos de pássaros e correr de águas límpidas nesta trilha.

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Athos participou de caminhada com grupo de andantes/Foto: Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Encontramos na nossa chegada no rincão uma Brasília amarela, um Del Rey e um Fusca que há muito tempo estão ali no local. Também passamos por um rancho de pau a pique, símbolo maior da arquitetura popular. O grupo foi recepcionado pelo casal de quilombolas dona Onélia e seu Alcíbio.

Conversamos, rimos e seguimos para a trilha. Com a promessa de que na volta teríamos uma cerveja para matar a sede. Mas teríamos muito mais do que a cerveja. Tínhamos mel e doce caseiro para adquirir.

A ambrosia feita pela dona Onélia me trouxe memórias da infância lá de Santiago do Boqueirão. Comparável com a ambrosia que minha mãe fazia. Para mim, ambrosia e infância são sinônimos.

Rincão do Inferno é, acima de tudo, um convite à contemplação. É um lugar que inspira a introspecção, onde o andante pode se perder pelas trilhas no sobe e desce das encostas ou nos labirintos da própria mente enquanto caminha.

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Quem se aventura por essas terras descobre que Rincão do Inferno é mais do que um nome que amedronta. É um convite para explorar a simplicidade, a beleza e a autenticidade de um pedaço esquecido do interior, onde as lendas se misturam à realidade, e o passado se entrelaça com o presente.

Quem for trilhar pelo Rincão do Inferno não deixe de matar a sede com a cervejinha gelada do seu Alcíbio, mas adquira também um pote de ambrosia. Esta ambrosia oriunda do Rincão do Inferno é de comer rezando. O Rincão do Inferno a gente define com uma palavra apenas: paraíso.

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