Paralelo 29

Onde você estava no dia 08.01.2023?

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Associamos frequentemente o local em que estávamos a eventos de grande impacto. Dois exemplos ilustrativos são o 11 de setembro e o 27 de janeiro, datas que provavelmente lembramos vividamente junto com o lugar e as atividades que estávamos realizando na época.

Com o fatídico dia 08 de janeiro não é diferente.

Estávamos veraneando em Tramandaí, como era uma tarde de muito sol adiamos nossa ida a praia ao encontro do chocolatão.

A opção era ficar zapeando os canais de televisão e numa das vezes – na Band – estavam em evidência as imagens de uma manifestação na praça dos Três Poderes em Brasília.

Mas em questão de minutos o protesto se transformou em baderna e, logo em seguida, como tentativa de golpe da extrema direita. E todos os canais já estavam ao vivo e repercutindo a ação dos vândalos na capital federal. Foi uma tarde tensa e repleta de apreensão.

Num primeiro momento parecia, apenas, uns baderneiros esculhambando tudo que viam pela frente. Danificando toda e qualquer obra de arte no interior dos prédios da praça.

Uma horda de arruaceiros insensíveis diante de uma pintura de Di Cavalcanti. No entanto, estava em curso um golpe de estado e revisitamos involuntariamente os livros de história do golpe de 64.

Não saímos mais da frente da televisão. Brasília estava em polvorosa e o presidente em viagem no interior de São Paulo. Naquela tarde – noite de domingo – não tínhamos a real dimensão da gravidade da ação. A reação foi imediata – e o golpe não foi televisionado – pois os representantes dos Três Poderes, governadores e ministros uniram forças em uma ação conjunta pela democracia no Brasil.

Aquela caminhada até ao STF foi a garantia que a democracia resistiria, e arrefeceu os mais alterados e afoitos golpistas. A partir daquele gesto estava decretado o fracasso do golpe.

Confesso que, no auge da ação, imaginei um retorno a Santa Maria com barreiras militares revistando cada carro suspeito, em um novo Brasil em estado de sítio, com milicos no poder. Contudo, na segunda-feira, voltamos para o Coração do Rio Grande numa democracia que resistiu ao estado de exceção.  

Agora, só esperamos a punição dos executores do vandalismo e de quem conspirou e liderou a tropa ensandecida e golpista.

A democracia sobreviveu e não reviveremos os anos de chumbo. No dia nove de janeiro, o Dia do Fico, ficou a democracia fortalecida.

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